Logo a seguir à Revolução de Abril fomos surpreendidos com uma explosão de siglas que correspondiam a partidos e movimentos políticos acabados de nascer ou resultado de dissidências mais ou menos antigas do PCP.
Na verdade os nomes dos partidos pretendiam vincar as suas opções ideológicas e, dentro destas, as diversas tendências e correntes para que não se confundissem com os parentes mais próximos.
40 anos depois, apesar de se manterem as siglas diferenciadoras, os partidos do centro político já não encontram ideias para se diferenciarem e passaram a promover o líder que pretendem ver como primeiro-ministro, assistindo-se a um processo cada vez mais acentuado de fulanização da actividade política.
Já não se apela ao voto no partido x ou y, antes se tenta convencer a votar no senhor x ou y que terá características pessoais mais sedutoras para o eleitorado.
Nas últimas eleições legislativas, por exemplo, a coisa foi-nos apresentada como uma luta entre Sócrates e Coelho e nestas europeias, apesar de ninguém votar no MPT, Marinho e Pinto obteve uma votação histórica.
A luta pela liderança do partido que ganhou as últimas eleições é o exemplo acabado da fulanização da política.
Os candidatos a candidato debatem entre si qual deles é o sabonete mais vendável ao eleitorado, qual deles é capaz de provocar a onda da vitória.
Se nos questionarmos sobre as diferenças políticas entre os dois chegaremos à conclusão que são praticamente inexistentes caindo a discussão em torno da confiança que cada um é capaz de criar no eleitorado, qual deles tem mais jeito para D. Sebastião, qual é o campeão do carisma e em qual confiaríamos para nos vender um carro usado.
A escolha não é entre esta ou aquela opção ou visão política mas entre o Costa e o Seguro, num concurso de mister simpatia, ganho à partida pelo que consegue o fenómeno de “melhor imprensa”, sabendo nós como esse fenómeno é criado.
E assim temos o partido do Costa, o partido do Coelho, o partido do Portas, a apresentarem as suas candidatura em nome próprio ainda que encobertas por uma sigla que nada mais significa que uma sigla.
Em boa verdade os partidos deste centro deveriam ter todos a mesma sigla, o P do F. Assim saberíamos que o Partido do Fulano ganharia sempre, mudando apenas o fulano que quer protagonizar a candidatura.
Apesar da nossa tendência para o sebastianismo, a fulanização, a aposta num protagonista em detrimento de ideias e opções, acabará por matar a política.
Eu, por mim, jamais farei escolhas em função de pessoas ou de características pessoais. Escolherei sempre em função de ideias e de projectos de sociedade. Talvez por isso nunca tenha alterado o sentido de voto e não prevejo vir a fazê-lo.
Até para a semana
Eduardo Luciano (crónica na rádio diana)