Todas as semanas eu ia até ao jardim de infância de Valverde, a quarta feira era sagrada, depois de almoço, a seguir à hora da sesta, lá ia eu contar uma história às crianças. Era uma festa, para mim e para a criançada. Inventava histórias, contava-as e eles ouviam e participavam, juntando episódios, comentando... foi uma das melhores experiências da minha vida.
Às tantas começaram a chamar-me pai Miguel e era bom ir na rua e ouvir uma vozinha de pardalito a chamar – pai Miguel! Pai Miguel! Olá!.
A aventura foi de tal forma boa, que passei também a ir contar histórias ao jardim de infância de Guadalupe e depois à EB1 de Guadalupe... enfim... fiquei incomparavelmente mais rico. Muito mais rico que os senhores com fortunas publicadas na Forbes.
Afinal de contas as crianças não são o futuro, são o presente, e a melhor coisa para um homem é amar o presente.
É por isso que ando triste com a vida e com o mundo. Estão a roubar-nos o sorriso das crianças. A fome, o abandono, a violência que desceu sobre elas é a pior das guerras, porque não nos tirando a vida, rouba-nos a razão de viver.
Cada vez que uma escola fecha as portas, cada vez que uma criança sente que os pais são impotentes para a defender... o mundo morre, definha, seca, e nós com ele.
Acredito piamente que todas as crianças são nossas, que todos temos o dever de lutar por elas.
Não existe pior ditadura que aquela que toma o sorriso das crianças e o devolve em lágrimas.
Miguel Sampaio (aqui)