Uma eleição que não consegue produzir uma maioria absoluta para um candidato entre quatro não tem em si nada de escandaloso. O significado deste resultado é difícil de interpretar. Uma interpretação pessimista, diria que a universidade está muito dividida, que os grandes eleitores (eleitos eles próprios por sufrágio directo pela academia) estão agrupados em grupos de interesses parciais ou particulares (ideológicos? partidários? económicos?) que se disputam o poder. Esses grupos são suficientemente coesos e até fechados para excluírem qualquer compromisso (alianças, partilhas de poder, etc.). Essa "divisão" enfraquece, nesta interpretação, a instituição.
Mas também podemos ter uma interpretação optimista. As instituições e nomeadamente as universidades têm tendência, na vigência duma certa cultura unanimista, a encarar a discussão, as propostas alternativas, os pontos de vista opostos, como "divisionistas" (!) e não como sinal de vigor democrático e cívico. Aqui temos quatro candidatos que apresentam propostas sérias, no sentido de que são viáveis e têm apoio de equipas experientes para governar a UE. Alguns candidatos são apoiados por (ou são emanações de) partidos políticos. Desde logo, na votação o que menos conta é a excelência da proposta, e conta sim a filiação política, ou outra (lobby). Mas estas propostas estão muito longe de serem equivalentes do ponto de vista que deveria ser o único a contar, que é o de arrancar a universidade aos lugares dos rankings nacionais (entre 10ª e 13ª das 14 univ. , nos principais indicadores, citando a apresentação do Prof. Carlos Marques na audição pública), que são os lugares de "descida de divisão" ou eliminação. O que seria interessante, dado que o acto eleitoral será recomeçado do início, seria que a sociedade civil nomeadamente eborense, estudasse essas propostas e se pronunciasse.
Para terminar por ora, uma observação algo maliciosa (confesso). O texto cuidadosamente calculado do comunicado do Conselho Geral afirma: "Apesar da excelência das quatro candidaturas apresentadas, nenhuma delas obteve a maioria absoluta dos votos...". Este "apesar de" revela sem querer que se diz o contrário do que se pensa. Com efeito, seria coerente afirmar "POR CAUSA da excelência... nenhuma delas, etc.". Com efeito, sendo todas excelentes, tornar-se-ia naturalmente difícil escolher. Mas não: é "APESAR de serem excelentes", ou seja, nenhuma delas ERA suficientemente excelente para convencer e arrebatar uma maioria absoluta. Ou, super-excelente, se a havia (?) não pôde vencer as resistências conservadoras. E aqui estamos perante uma realidade escondida que deixa o rabo de fora. Sorria, ainda a procissão vai no adro.
1 Fevereiro, 2014 12:33