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Juventude Portuguesa? Ou Mocidade?

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Não estando satisfeitos com o péssimo trabalho que estão a prestar à democracia, como se não fossem suficientes os atentados aos direitos dos portugueses, o PSD decidiu aplicar mais um golpe à democracia e mais um atentado aos direitos humanos.
A JSD, com a óbvia aprovação dos seniores do PSD e de Pedro Passos Coelho, decidiu apresentar a proposta de um referendo sobre a co-adopção e adopção de crianças por parte de casais do mesmo sexo. Relembro que esta proposta surge após a Assembleia da República já ter aprovado uma proposta sobre a co-adopção. O referendo foi aprovado graças aos votos a favor dos deputados do PSD e das abstenções dos deputados do CDS. Repugnante esta tomada de posição. Enquanto que no CDS o relógio relativo à suposta saída da troika parece estar adiantado, pelos lados da JSD parece que o relógio está atrasado largas dezenas de anos. Julgo estar na hora de os fazer despertar e colocá-los no seu devido lugar.
Fica claro que esta proposta do PSD tem três objectivos:
1.º) Fazer parar a iniciativa em curso, e já aprovada, relativa à co-adopção, fazendo prolongar a angústia real de crianças e seus pais ou mães;
2.º) Promover uma manobra de diversão, procurando desviar a atenção dos portugueses das políticas económicas e sociais desastrosas que têm vindo a levar a cabo;
3.º) e por fim, contribuir para a descredibilização da vida política e partidária. Os jotinhas sabem bem que estas tristes cenas contribuem para essa descredibilização, e que com ela beneficiam, pois sabem que só têm a ganhar com o alheamento e com a abstenção.
Devo, ainda, acrescentar que os deputados e deputadas do PSD que saíram da sala ou que votando a favor do referendo, apresentaram declarações de voto, não me merecem qualquer qualificação mais positiva, antes pelo contrário. Sair da sala ou dizer em declaração de voto que eram contra o referendo, apenas significa uma coisa: que valorizam mais a disciplina de voto do que a sua própria consciência e os direitos de dezenas de crianças e famílias deste país.
Sobre a co-adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo, os opositores continuam a dizer que é necessário um debate público mais amplo (como se os direitos humanos fossem passíveis de debate) e que são necessários mais avanços científicos. Sobre o debate público, pergunto-me: se tivéssemos estado ao longo das últimas décadas à espera da conclusão dos debates públicos sobre as principais questões relacionadas com os direitos humanos, será que teríamos avançado assim tanto? E sobre os avanços científicos, as centenas e centenas de estudos científicos existentes sobre a matéria não são suficientes?
Recordo, a título de exemplo, que a minha Ordem Profissional – Ordem dos Psicólogos Portugueses - entregou à Assembleia da República, há poucos meses, um parecer sustentado por dezenas e dezenas de estudos que confirmam que as crianças criadas por casais do mesmo sexo têm um desempenho igual ao das crianças criadas por pais heterossexuais, no que diz respeito ao seu desenvolvimento emocional, cognitivo, social e ajustamento psicológico. Aliás, as centenas de estudos realizados confirmam, ainda, o papel adaptativo, funcional e emocionalmente ajustado dos pais do mesmo sexo, não havendo qualquer diferença em relação aos pais heterossexuais.
É triste, é muito triste que se defendam com a necessidade de debates e de avanços científicos apenas porque têm medo de dizer abertamente que tem uma mente enclausurada algures no século passado, impregnada de maus e velhos costumes…

Bruno Martins (crónica na Rádio Diana)

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