A última crónica de cada ano divide sempre o cronista. Ou faz o balanço do ano que termina ou fala do que se perspectiva para o ano seguinte. A terceira alternativa é ignorar que é dia de Natal, e que a crónica seguinte irá para o ar já no dia 1 de Janeiro e pegar num dos temas da actualidade mais premente.
Um pouco farto de balanços e de olhar para bolas de cristal mais ou menos embaciadas, vou optar pela terceira alternativa e falar do presente imediato. Conhecidas as conclusões do último Conselho Europeu, ficámos todos a saber para onde apontam as mentes brilhantes que, ao serviço de interesses obscuros, vão determinando os caminhos que os povos da Europa serão obrigados a percorrer num futuro mais ou menos imediato. Não há novidades nesse caminho onde se preconizam medidas gravosas de transferência de carga fiscal do capital para o trabalho, mais privatizações, acentuar a diminuição de salários e a desregulação laboral, cortes violentos de direitos sociais acompanhada de maior concentração de capital.
Este caminho pressupõe sempre um ataque ao que resta da soberania dos Estados, empurrando esta Europa para o federalismo sem a preocupação de perguntar aos detentores da soberania, os povos, se aceitam esse caminho. Não se trata de abdicar voluntariamente da soberania mas sim de uma verdadeira expropriação.
Já estou a ver os executantes destes ditames a neles se escudarem para justificar o aprofundamento das condições de exploração no nosso país, como se não bastassem as humilhantes condições que aceitaram quando assinaram o memorando de entendimento com a troika, acrescidas da sua própria agenda ideológica, que pretende acertar contas com aquilo que foi conquistado após a Revolução de Abril de 1974.
No ano em que se comemoram os quarenta anos da Revolução de Abril e sob o pretexto de “estarmos quase a sair debaixo do jugo da “troika”” vão exigir-nos mais passividade, que nos acomodemos até Junho, que tenhamos compreensão perante tanta inevitabilidade.
Não pensem nisso. Se nem no período festivo abrandou a mobilização contra este caminho de desastre, não serão os cândidos apelos a “comer e calar” que irão desmobilizar aqueles que acham que um governo que insiste em governar contra a Constituição só pode ser demitido. Alguns já estarão a dizer “o gajo disse que não ia falar do futuro e não falou de outra coisa”. Não estive a falar do futuro, estive a falar daquilo que o Conselho Europeu entende hoje que deve ser o futuro. Concluam lá o que entenderem, o futuro será aquilo que os povos europeus quiserem que seja.
Até para a semana
Eduardo Luciano (crónica na Rádio Diana)