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Por dever de profissão, por diversas vezes tive já de moderar debates. No final sempre fiquei com a sensação de o fazer mal. Muito pior quando os debates são públicos. A minha casa é a rádio e o conforto do estúdio pelo que, definitivamente, não me sinto confortável na pelo de moderador de debates em espaços públicos, como o que ontem serviu de mote à festa de inauguração do Armazém 8.
Ontem, com o avançar da conversa, abri um conflito pessoal sobre os tempos do “corte” da palavra. Quando temos publicamente a oportunidade de ouvir alguém da grandeza intelectual, pensamento escorreito cientificamente sustentado e com discurso escorreito como o professor Silvério Rocha Cunha, torna-se um acto sacrílego pensar em cortar a sua raiz de pensamento. Ora se deixo fluir o pensamento de um, por que razão não dar liberdade à expressão dos restantes - também eles bastante interessantes?Nisto me perdi ontem à noite. E com isso fui perdendo o meu guião de conversa – claramente definido para 46 minutos, sobrando 14 para perguntas que pudessem vir de quem assistia ao debate. Perdi, perdeu-se, portanto, uma excelente oportunidade de realizar uma grande conversa sobre Cultura.
Ainda assim creio que ficam duas ou três notas que convém assinalar.
Há uma grande confusão entre Cultura e espectáculo. Seria bom que quem tem a responsabilidade do planeamento da estratégia cultural da cidade tenha em mente que Cultura – no sentido mais lato – é muito mais do que espectáculo.
Ficou também claro que os artistas, os agentes criadores, terão de fazer a ruptura. Terão de ser, daqui para a frente, empreendedores de si próprios se quiserem continuar a querer fazer das artes um modo de vida. Isto porque, resulta da conversa, para além deste ou daquele espectáculo, não vão poder contar com muito mais que boa vontade por parte de quem tem a responsabilidade de gestão da coisa pública – o que, diga-se em abono da verdade, é muito mais do que têm conseguido de 2009 para cá.
Retive que até final do ano a autarquia terá conversado, ouvido, juntado, todos os criadores desta cidade. Todos partirão em igualdade de circunstâncias para serem, em comum, obreiros da mudança. Construtores de uma estratégia que venha a abrir novos horizontes para a concretização do sonho de Évora como cidade de Cultura. Espero conclusões rápidas e sérias, ainda que ache que é preciso ter em atenção que um caldeirão cheio de grandes ideias pode não resultar na consecução de uma estratégia comum que agrade a todos e tenha real eficácia. Além de que pode deixar marcas negativas que venham a tornar inviáveis entendimentos futuros.
Entretanto, houve festa. E foi bonita.
O que interessa para já relevar e sublinhar é que Évora tem agora uma sala - Armazém 8 - que pode vir a ser um importante local de armazenamento de grandes momentos artísticos.É só isso que espero e desejo.