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Évora: tudo em aberto a um mês das eleições

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Fiquei "siderado" com o tom cordial, amigável, construtivo desta conversa entre a Dores Correia e José Rodrigues dos Santos, nada habitual em Évora, seja por falta de espaços, seja pela falta de qualidade humana e argumentativa. Era disto que se deviam fazer as campanhas eleitorais: discussão concreta de situações. O porquê do voto nesta ou naquela força política, pelas suas qualidades e não pelo demérito do adversário. Estão de parabéns e espero que o exemplo frutifique.
A um mês exacto das eleições em Évora faltam debates, inicativas, conversas que não estejam apenas viradas para dentro de cada uma das forças políticas em confronto nestas eleições. Que a cidade, na sua diversidade, possa participar. Mas o que se passa é o mesmo de sempre: todas as forças políticas a falarem para dentro, nas suas zonas de conforto, a "convencerem" quem já está convencido. Nesta perspectiva a prestação dos partidos políticos é paupérrima: passam a campanha em pequenas acções, sem discussão nem debate, quase como as vendedoras de "tupperwares" de antigamente - vão pelos bairros e num porta a porta que, sendo de proximidade, não deixa uma ideia, uma sugestão, um olhar que seja sobre a cidade. Ele são festas e festinhas, "bejecas" ao fim da tarde na tasca de bairro, enquanto se distribue um folheto, não batas a essa porta que esse não é dos nosssos e vamos embora que o bairro "já está feito". Repetem as apresentações de candidatos para a Câmara ou para as juntas, mas sempre com o mesmo discurso de cátedra: nós somos os melhores, o resto ou não existe ou são uns anormais que para aí andam... 
Sem conseguirem respeitar o adversário, duvido que se respeitem a si próprios.
E para acrescentar a este estado de indigência eleitoral - a que não será estranha a escolha dos cabeças de lista quer da CDU, quer do PS, que não são, claramente, escolhas naturais - aí está a sondagem da SIC/Expresso de há uma semana a prová-lo: ao contrário do que as hostes do PCP julgavam (que tudo estaria ganho) e daquilo que muitos militantes do PS pensavam (a Câmara estava perdida) afinal a "luta" ainda pode ser renhida e os dois principais partidos estão, nesta altura, empatados. Mas a sondagem (é uma sondagem!) tem alguns outros dados interessantes: o PSD/CDS mantêm a votação de há quatro anos sem parecer terem sido "arranhados" pela governação central e o BE sobe quase para os dois digitos - quadruplicando os votos de há 4 anos - podendo mesmo alcançar um lugar na vereação. E mais importante do que isso: segundo esta sondagem, grande parte dos votos do BE (ao contrário daquilo que os arautos do PCP/Évora afirmavam aqui mesmo neste blogue) vêm do PS (que desce sensivelmente na mesma proporção dos votos ganhos pelo BE). Ou seja: se o BE eleger um vereador será sempre "à custa" do PS e não da CDU.
Trocando por miúdos, segundo esta sondagem, se a CDU ganhar a Câmara de Évora ao PS será porque teve a "ajuda" do BE no "roubo" de votos ao PS. Não se percebe assim a animosidade caceteira e controleira que o PCP em Évora tem vindo a manifestar contra o Bloco de Esquerda que, pela sua parte, só teria a ganhar se definisse claramente a importância que teria a eleição dum veredor seu no elenco camarário. Deixo este conselho: as próximas semanas, para o BE, devem ser focalizadas sobre a importância para os cidadãos de Évora em terem o BE representado na Câmara (é treta vir dizer que ganham a Câmara. Mas que diferença poderá fazer uma vereadora do BE na autarquia? - este sim é o ponto chave e diferenciador para o voto de muitos eborenses na Maria Helena Figueiredo). Mais ainda, independentemente dos resultados do BE nestas eleições, acho que está aberto o caminho para a construção de um espaço independente e alternativo para daqui a quatro anos, sem dependências partidárias, que consiga romper com o bipolarismo doentio a que o bipartidarismo conduziu a cidade de Évora. Será que os "independentes" do BE estarão dispostos a dar esse passo? Vamos a ver: uma boa votação hoje no BE poderia ser útil para a construção amanhã de uma alternativa local, sem espartilhos partidários.
No mais, está tudo em aberto e dentro de um mês se saberá. Bom resto de campanha a todos. Eu não votarei. Mas acho que quem quer votar o deve fazer em plena liberdade e sem qualquer tipo de constrangimento. Só as ditaduras - de um e outro tipo - é que impedem o voto e as candidaturas plurais, de uma forma livre e universal.


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