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A prática continuada do poder afasta os eleitos da rua

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Esta é a minha abordagem enquanto cidadão, afirmo-o para deixar claro que o que aqui afirmo em nada vincula a força política que integro e que como alguns saberão é o Bloco de Esquerda.
Quero também sublinhar que não é minha intenção pessoalizar o debate, todos os candidatos me merecem a consideração e o respeito devidos a quem tem a coragem de se assumir e dar a cara por ideias e projectos, tem de haver quem o faça, fazem-no eles e isso é digno de louvor.
Sou subscritor da posição sustentada pelo BE, que defende não ser possível um quarto mandato consecutivo independentemente do concelho ou da freguesia. Nenhum dos argumentos até agora aduzidos, pró ou contra, fundamentam tanto a minha posição quanto um que gostaria de ver debatido e que consiste no distanciamento do quotidiano dos cidadãos, que a prática continuada do poder determina.
O “gabinete” implica uma visão “macro”, estratégias de fundo, opções muitas vezes salomónicas e se é verdade que tal prática é inevitável, que decorre do poder, da prática do poder, não é menos verdade que com o tempo essa mesma prática se divorcia inapelavelmente das necessidades concretas dos cidadãos. A comunicação entre eleitores e eleitos esmorece, o diálogo deixa de existir, a interacção desaparece, entra-se numa conversa de surdos.
Não é a cupidez, o compadrio, a troca de “favores”, que esta lei visa atacar, é a estanqueidade dos órgãos de poder.
A prática continuada do poder afasta os eleitos da rua, esse é o pior dos vícios e será sempre a grelha aplicada, independentemente do local onde esse mesmo poder se exerça, independentemente de quem o detenha. Por isso se fala do país profundo, que só é profundo para não vive nele, para quem não vivencia os seus problemas...
Há quem diga que o BE funciona como uma muleta do PS, nada mais falso, o BE sempre afirmou a sua singularidade, é um partido com representação parlamentar e com um deputado municipal, poderia falar de inúmeras iniciativas do BE, desde as águas, ao referendo sobre a extinção das freguesias, desde a sua assertividade na recusa do PAEL ao acompanhamento do homicídio ambiental que representam as minas da Boa Fé, mas não é necessário, basta consultar as Actas da AM para constatar a sua coerência e para verificar que nunca abdicou dos seus princípios, que sempre defendeu as suas posições intransigentemente.
Se o PS está em silêncio, é porque essa é a única estratégia possível depois daquela que foi uma catastrófica gestão do município, quanto menos “ondas” fizer menos rombos sofre nas suas pretensões eleitorais. O mesmo se passa com o PSD, esse sim a verdadeira escora do PS por via do seu vereador, que na prática, dado o número de eleitos, sempre funcionou com o Presidente sombra, aprovando o que convinha com afirmativas abstenções, votando contra questões no mínimo secundárias para a vida do município, aliás, é nisso que o PSD aposta, na eleição de um vereador de “ouro”.
Quanto à CDU, que encara com toda a justeza a possibilidade de reganhar a Câmara, terá de explicar com límpida clareza porque não escolheu para encabeçar a lista algum dos seus quadros (tem-nos com bastante qualidade) de Évora, porque escolheu o ex presidente da câmara de Montemor, terá também de esclarecer se este renunciou ao mandato ou se apenas o suspendeu. É que faz toda a diferença, um mandato suspenso implica a possibilidade de retorno, pressupõe que a indisponibilidade é transitória, mesmo que seja para promover alguém numa próxima candidatura e ganhar assim espaço político para uma eventual candidatura noutro qualquer município; enquanto uma renúncia é definitiva, (ia dizer irrevogável mas arrependi-me) significa não existirem condições, seja qual for a sua ordem, de se manter num cargo, e aí o local pouco importa, é a disponibilidade que conta, ou se tem condições ou não.
É no mínimo estranho que se renuncie a um mandato num Concelho que se conhece, cuja evolução foi obra em que participou como figura dominante, para logo a seguir se candidatar ao mesmo órgão num concelho absolutamente problemático, falido, a necessitar de uma gestão bem mais exigente.
Podem até as pessoas pensar que há um certo “taticismo” nisto e, lembrarem-se do ditado que reza: cesteiro que faz um cesto...
Saudações democráticas.

Miguel Sampaio (aqui)

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