As cidades invisíveis, de Italo Calvino, é um livro a que é bom voltar em qualquer altura da vida. Em qualquer altura do ano. A qualquer momento.
No inicio destas férias, alguém que que me conhece bem, ofereceu-me um exemplar (da 14 ª edição da Teorema) sabendo que eu costumo usar uma velha edição fotocopiada.
E eu lá voltei, com enorme prazer, a esse livro sobre o qual o próprio Calvino considerou ter sido onde disse mais coisas. Tantas coisas que de todas as vezes que lá voltamos sempre se encontra um novo encanto, um recanto não percebido, ou um olhar antes não visto.
" Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra. [ ele, jovem explorador que visitara inúmeras cidades e as contava agora ao imperados que o enviara ]
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? Pergunta Kublai Kan, [o imperador dos tártaros]
- A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra - responde Marco -, mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta:
- Porque me falas das pedras ? É só o arco que me importa.
Polo responde: -Sem pedras não há arco. "
Ao reler esta passagem, senti-me tão Marco Polo, para logo logo me saber também Kublai Kan.. Reconheci a presença de tantos imperadores e tantos jovens venezianos no mundo em que vivo, que me cresceu a vontade de falar a alguém, uma vez mais, da necessidade de nos ouvirmos, percebermos, ou seja de aprendermos com o que os outros sabem.