Esta manhã, por volta das 9h, a PSP dá ordem de expulsão a uma família cigana (mãe, irmão e 5 crianças) de um terreno cujos vizinhos, também ciganos, não se importavam com a sua permanência, após esta ter sido enxotada 2 dias antes dos terrenos que ocupavam anteriormente.
A insensibilidade da atuação da PSP é bem evidente não deixando sequer que 4 das crianças pudessem ter ido à escola. A outra criança, por ter saído mais cedo, conseguiu escapar a esta crueldade.
Mas passemos a contextualizar:
Em meados do mês de Janeiro a Câmara Municipal de Évora deu autorização a cerca de dez famílias de etnia cigana para acamparem no Bairro da Malagueira em Évora, junto às Piscinas Municipais. Algumas destas famílias constam aliás, de uma lista de quinze famílias que o município elaborou autorizando expressamente a permanecerem no Concelho de Évora dado que têm crianças inscritas e a frequentar escolas no Concelho de Évora.
A 30 e 31 de Janeiro a PSP, após instrução do município de Évora, mandou levantar acampamento a todas estas famílias alegando que a autorização havia sido retirada na sequência de queixas de moradores deste Bairro (alegaram a existência de furtos e de que havia muito lixo na zona). De salientar que o município apesar de ter dado autorização para acampamento na zona não providenciou qualquer condição (nenhum ponto de água, nenhum caixote de lixo, ….).
As famílias foram todas, sem exceção, expulsas do local, não tendo sido dada qualquer opção de local onde estas podiam acampar. Na sequência desta expulsão, várias crianças ficaram privadas de ir à escola, uma vez que as famílias estavam desesperadas sem saber para onde deviam ir, encontrando-se a vaguear pela cidade.
A PSP extrapolando (ou não?) as instruções da própria Câmara exigia mesmo que abandonassem a cidade e o concelho.
Ora estas famílias, como a referida ao início, têm as crianças nas diferentes escolas de Évora (Malagueira, Almeirim, Stª Clara...) e, como bem sabe quer a PSP quer a Câmara, se deixarem de ir à escola, podem perder as magras verbas dos subsídios que possam ainda usufruir.
Sabendo o próprio SOS Racismo (por contatos diretos que fez) que a Câmara diz que não tem alternativa e sabendo também que já há dois anos que foi criado um grupo de trabalho para procurar resolver esta questão e que passados já quase dois anos continua sem se ver resultados, cabe tentar perceber o que pretende a Câmara e para onde se poderão dirigir estas famílias com as suas carroças.
Também fomos sabendo que a questão da comunidade cigana que se encontra em Évora foi já suscitada no Conselho Municipal de Segurança, depois de ter sido tomado conhecimento de que as forças policiais expulsavam sistematicamente estas famílias quer da cidade quer das freguesias rurais sem que tenha sido manifestada vontade efetiva de serem encontradas soluções.
15, 20 famílias a vaguear de um lado para o outro, sem abrigo, sem acesso a água e saneamento mais elementares, sem poderem sequer colocar os seus filhos na escola. É essa a solução?
Queremos pensar que, em ano de Eleições Autárquicas, os mais elementares direitos humanos, em Évora, ainda se sobreponham às aritméticas eleitorais muito dependentes de pressões racistas e xenófobas.
Pelo SOS Racismo
José Falcão