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A morte de um construtor da liberdade

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A 4 de Dezembro de 1961 oito militantes do PCP evadem-se do Forte de Caxias, utilizado como estabelecimento prisional durante a ditadura fascista.
A história da fuga é por demais conhecida e teve a particularidade de ter tido como principal instrumento um carro blindado oferecido por Hitler a Salazar.
A preparação da fuga, meticulosamente planeada, passou pela atribuição da pior das tarefas que se poderia atribuir a um comunista preso. Passar-se para o lado do inimigo.
Um dos presos aceitou essa tarefa, sabendo que o preço a pagar seria elevadíssimo e que seria precisa uma enorme coragem moral e física.
Durante largo período de tempo, enquanto ganhava a confiança dos seus verdugos, foi tratado pelos seus camaradas como um “rachado”, como alguém que não era merecedor de qualquer tipo de respeito e teve de conviver com essa realidade sem poder dizer “tenham calma, é só uma tarefa”.
Não consigo imaginar como terão sido aqueles tempos para aquele homem que executava cuidadosamente o plano que levaria à liberdade outros seus companheiros de luta.
Sabemos como acabou, com a saída do carro blindado de Salazar conduzido pelo falso “traidor” com mais sete passageiros que iriam recuperar os seus lugares na luta pela liberdade, que só chegaria treze anos depois.
A resistência contra a ditadura foi feita de pequenos e grandes feitos de gente que arriscou a sua liberdade e muitas vezes a vida sem se se questionar se chegariam a usufruir dos objectivos da sua luta.
Era um tempo em que trair era um luxo que não se podia permitir a ninguém e apesar disso houve um homem que aceitou a pior das tarefas que levaria a uma das mais audaciosas fugas realizadas de uma prisão política.
Este homem, que ingressou na clandestinidade logo após a fuga e que andou por sítios como Checoslováquia e França, foi reintegrado na Carris onde trabalhou até à idade da reforma.
Nunca foi ministro, deputado, dirigente ou autarca, mas ninguém terá dúvidas que sem a abnegação e a coragem de homens como este não viveríamos em liberdade.
António Tereso, morreu no passado dia 7 de Janeiro, aos 89 anos e, tirando a nota publicada pelo seu Partido de sempre, não houve uma única referência ao seu desaparecimento.
A história é escrita assim mesmo. Os editores de serviço decidem quem tem direito a uma página inteira, quem merece uma nota de rodapé e quem nem isso merece.
Neste caso, ao apagar a memória de António Tereso, o editor de serviço apaga a memória dos heróis que construíram a liberdade.
Até para a semana

Eduardo Luciano (crónica na radio diana)

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