Mário Soares foi ontem a enterrar. Para uns, um homem singular, um combatente incansável pela instauração da liberdade no país. O pai da democracia. Para outros, um homem até odiado, a quem atribuíram grandes responsabilidades pelos insucessos da descolonização operada em 75. Um anti patriota, portanto. Para mim, fora um homem que marcou a história do nosso país na última metade do século vinte, sobretudo, pela sua participação na “ fonte luminosa” na oposição ao comunismo.
Nunca votei nele, mas reconheço que, Mário Soares contribuiu decisivamente, para que Portugal não tivesse caído nas mãos dos comunistas, em 1975. É, na minha opinião o maior legado politico por ele deixado. O facto de eu poder escrever esta crónica sem qualquer tipo de censura, é um facto que fala por si só. Não tem, portanto, qualquer preço.
Também, em abono da verdade, deveremos relevar o papel determinante que Mário Sores teve na adesão de Portugal à então CEE, hoje União Europeia, e, à Aliança Atlântica – NATO. Contribuiu de forma muito empenhada para que estes factos da maior relevância para o país, fossem uma realidade. Por isso, inegavelmente, esteve, como agora se diz, no lado certo da história.
Porém, do mesmo modo que falo de verdade, a isenção e a lucidez deverão presidir a nossa memória coletiva. O certo é que o país, nos últimos quarenta anos, atravessou períodos nada dignificantes. E, neste aspeto, afirmo eu, o país passou ao lado da “boa história”. De facto Portugal foi intervencionado por três vezes por má gestão politica e fomos visitados pela afamada TROIKA. Não deverá haver um único português que não tenha ouvido pelo menos uma vez a palavra TROIKA. Apesar disso não foram retiradas as devidas lições dos motivos que conduziram o país para a crise financeira, nas três ocasiões.
Dito isto, embora seja ainda muito prematuro para se fazer a história da herança política de Mário Soares, pelo menos para mim, uma coisa é certa. Nunca que me apercebi que tivesse contribuído de forma substancial no combate dos problemas estruturais que afetam o pais há muitas décadas. O peso do Estado na economia. A importância da meritocracia. A corrupção. A pequena cunha. A interferência destas questões na nossa vida comunitária, continua a condicionar de forma muito acentuada o desenvolvimento do país.
José Policarpo (crónica na radio diana)