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As ondas do populismo

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A polémica em torno da administração da Caixa Geral de Depósitos e as posições que foram sendo assumidas e publicitadas sobre o assunto, deverá tornar-se num caso de estudo sobre como o populismo bem manipulado pode levar a consequências negativas, parecendo que se está a perseguir um objectivo de justiça.
Como nos livros policiais, aqui também é necessário descobrir a quem aproveita o crime, para se perceber quem são os suspeitos mais prováveis.
É óbvio e evidente que o liberalismo reinante nunca engoliu a existência de um banco público. Só alguém muito distraído poderá não perceber que o principal objectivo de PSD e CDS com a questão da declaração de rendimentos é a fragilização do banco público para abrir caminho à sua privatização.
Imaginam o PSD preocupado com a promiscuidade entre gestão pública e negócio privado? Imaginam o CDS preocupado com o valor do salário de um banqueiro? Claro que não. Seria necessária demasiada imaginação.
O governo cometeu erros de palmatória, o banqueiro esteve-se nas tintas para o interesse público e entendeu que a defesa da sua posição pessoal era mais importante e os justiceiros anónimos foram atrás de frases incompletas, meias verdades e sentimentos de injustiça.
Li e ouvi, gente que não admite que se metam na sua vida (e bem) a querer conhecer os rendimentos e os interesses dos administradores da Caixa. A questão deixava de ser a entrega da declaração para passar a ser a publicidade da mesma.
A onda foi crescendo, alimentada convenientemente pela comunicação social do costume, até se tornar tão grande que a tentação de a cavalgar se tornou, para alguns, impossível de resistir.
Que fique claro, entendo que os administradores deveriam ter enviado as declarações de interesses e rendimentos ao Tribunal Constitucional e acho indecoroso o salário negociado com o banqueiro que preside ao conselho de administração.
Mas alinhar numa campanha de desestabilização do banco público com o objectivo de cavalgar uma onda de popularidade imediata, parece-me não fazer qualquer sentido.
O resultado está à vista, com a Caixa passar por maiores dificuldades e alguns a salivarem perante a possibilidade de abocanharem os restos do banco público.
Muito se fala de populismos crescentes por esse mundo fora, que a eleição de Trump parece ter ajudado a multiplicar.
Lamentam-se e não aprendem nada com o que vão observando, continuando a guiar a sua acção pelo que parece um ganho político imediato alicerçado na exploração de um sentimento generalizado de injustiça.
Esquecem-se que quem forma as ondas onde gostam de surfar, são os donos deste mundo, que vão manipulando os surfistas da “popularidade” enquanto deles precisarem.
Até para a semana

Eduardo Luciano (crónica na radio diana)

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