Saiu na semana passada um estudo que revela a corrupção como o terceiro maior problema de Portugal para os portugueses, apenas superada pelos problemas no emprego e na economia.
Confesso que estranhei só um pouco, sobretudo por aparecer acima das sempre estridentes notícias em torno das falhas na saúde, na educação, nos salários e pensões. Desconhecendo as ferramentas e metodologias usadas no estudo e presumindo que, tendo sido dados do barómetro da associação cívica «Transparência e Integridade», o termo corrupção e as suas diferentes percepções tivessem sido uma constante em todos os tipos de questões colocadas, a minha opinião arrisca a ser apenas e só isso mesmo. Uma opinião a partir dos dados que, na transparência com que foram divulgados na comunicação social, terão na opinião pública um efeito que, muito sinceramente, me parece ser zero para ajudar a resolver o problema. Sem menosprezar o facto de, bem entendido, se falar no assunto para além dos sketches humorísticos, que existem um pouco por todo o mundo sobre o assunto, ser importante.
Diz que mais de 80% dos portugueses crê que no Estado e os que detêm cargos políticos são corrompidos por poderes económicos, uma corrupção por isso sistémica em que os mecanismos das instituições, que deviam estar ao serviço do chamado interesse público, estão distorcidos para favorecer interesses privados. Pensa-se sobretudo nos milhões de euros que, todos os anos, os governos investem em criação e melhoramento de estruturas públicas, das estradas às escolas, dos hospitais à distribuição de energia, criando a ocasião para…a corrupção.
Esta associação cívica, que integra uma rede internacional, propõe algumas ferramentas para corrigir ou prevenir esta corrupção que aflige os portugueses. Essas ferramentas são então os chamados “pactos de integridade”. Estes constituem-se como acordos entre uma agência governamental que abre concursos para um contrato e as empresas licitantes, em que se comprometem a abster-se da prática de, por exemplo, suborno e conluio, para que o contrato vá para a frente. Os “pactos de integridade”, visando garantir a prestação de contas, também incluem um sistema de monitorização normalmente liderado por grupos da sociedade civil.
A mim parece-me tudo muito bem, inclusivamente até a preocupação da secção portuguesa em proteger quem denuncie estas práticas sem ter de correr riscos de vida, ou até só passar por “bufo” ou traidor. Mas nos pequeninos momentos em que, na vida de todos nós, vamos podendo assistir à incubação destas práticas em atitudes que, a vários níveis, simulam comportamentos regulares não o sendo, ou que fecham os olhos a irregularidades sem justificação legalmente aceite, parece-me que quem os denuncie recebe em ricochete o “elogio” de dedo-duro e não é considerado como o cidadão activo no combate à corrupção e em defesa da integridade com a qual, neste estudo, todos parecem tão preocupados. É que, ao fim e ao cabo, fechar os olhos dá muito menos trabalho do que levantar um dedo. Parece.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira (crónica na radio diana)