Muito gosto eu da lua. E quando está próxima, ali mesmo ao alcance de uma das mãos, torna-se uma fonte de inspiração irresistível para tudo.
Beber ao luar, escrever ao luar, reflectir sob a sua luz intensa ou… apenas apanhar banhos de lua, pode ser qualquer coisa de terrivelmente desinquietante para quem faz um enorme esforço para ter os pés assentes na Terra, literal ou metaforicamente.
Sempre que há noite de lua cheia, corro a olhá-la na esperança de ver um lobo a uivar, uma bruxa sensual, despida de negro, a pilotar a sua vassoura em direcção ao último paraíso.
Normalmente tenho azar e os lobos que conheço mordem sem uivar ao luar e as bruxas não têm vassoura, vêm vestidas de cores garridas e têm a sensualidade de um paralelepípedo, independentemente das suas formas.
Mesmo sabendo isso não resisto a olhar a lua na procura do invisível que me leve a pronunciar o indizível. É da minha natureza não desistir de acreditar na bondade dos lobos e das bruxas.
Se pouco mais há a dizer sobre a lua, pergunto-me como foi possível as televisões terem passado um dia inteiro a falar da maior lua dos últimos não sei quantos anos, ouvindo todas as opiniões possíveis, e até algumas impossíveis, sobre o assunto?
Agora deixem-me falar sobre saliva e o acto de a expelir em direcção de outra pessoa. Como saberão a saliva é produzida pelas glândulas salivares, tratando-se de um complexo fluído composto por água e glicoproteínas. Produzimos em média cerca de um a dois litros de saliva por dia.
Não vou falar das inúmeras possibilidades de utilização da saliva, mas devo referir que o acto de expelir a saliva, mais conhecido como cuspir, tem quase sempre uma conotação negativa e deve ser por isso que poucas coisas serão piores que cuspir na sopa.
Estando o assunto da saliva tratado, alguém me consegue explicar por que carga de água as televisões passaram um dia inteiro a mostrar um vídeo e a profusamente comentar o mesmo, procurando descortinar a quantidade de saliva que terá saído da boca de alguém em direcção a um seu interlocutor?
Eu sei que não havia nada de mais interessante para comentar, noticiar ou discutir. Iam agora falar sobre o facto de Bruxelas ter engolido o Orçamento, ou sobre terem metido no saco da viola a suspensão de fundos, ou sobre os dados do crescimento económico terem desmentido as aves de agoiro do costume. Coisas sem importância quando comparadas com a dimensão da lua e a capacidade de salivação de um presidente de um clube de futebol.
Tivesse corrido tudo ao contrário e teríamos a Teodora Cardoso a cuspir teorias sobre o caos próximo e o Gomes Ferreira a dar pontapés na lua, durante as vinte quatro horas que o dia ainda tem.
Eu bem sei que este é um sítio para dizer coisas sérias mas a minha carta astral, por causa do Mercúrio em Peixes, diz que eu tenho uma certa dificuldade para me orientar dentro de processos lógicos e racionais do pensamento.
Até para a semana
Eduardo Luciano (crónica na radio diana)