Hoje apeteceu-me mesmo escrever uma crónica sobre as virtudes dos outsiders. Os outsiders são aqueles que vindos de fora entram num sistema remexendo-o com impacto.
Os outsiders deixam de ser bem vistos por aqueles que se deslumbram com o que vem de fora mas que, depois, do que afinal gostam mesmo é que tudo fique na mesma. O que é impossível com essa espécie de ser humano mais cosmopolita, o outsider, que viu mundo e se dispôs a trazer o mundo para dentro de um quintalinho. Ele até cabia, mas era preciso que tudo se re-arrumasse em novos moldes e não ao jeitinho deste ou daquele, dos que já estão habituados a viver assim há upa, upa… O outsider pode, pois, ir e vir, de onde menos se espere, e leva ou traz consigo o que de melhor cá ou lá aprendeu.
Outsiderque é outsider pensa fora da caixa, que é também como quem diz que pensa fora da panelinha, do circulozinho, da quintinha. E quando pensa assim, fora da caixa, e consegue transpor para a acção esse pensamento, outros beneficiarão da mudança ou, ainda melhor, aprenderão também a pensar fora da caixa. Pensar fora da caixa não é pensar mais ou maior, é pensar livre de palas e jugos, em função de valores que se adequem, até institucionalmente, às funções que se exercem, aos papéis que se desempenham, aos compromissos que se assumem.
E que feliz será o sistema que acolha um outsider assim e aprenda com ele. É que ele permite que quem se sinta fora desse sistema possa encontrar o seu lugar. O autor de Aparição, a que vou dedicando a série deste ano das crónicas, disse, e ficou escrito, que: «O prazer que nos dá uma ideia de outrem, com que concordamos, vem-nos da ilusão de que fomos nós que a inventámos. Até porque fomos. Mas só agora o soubemos.»É assim, digo eu, que criamos uma identificação, é assim que descobrimos que não estávamos errados e nos sentimos estimulados a lutar contra uma corrente, se a corrente não nos levar por caminhos rectos e de bom destino.
Hoje apetecia-me fazer uma crónica sobre um ministro que entrou a lutar em nome do bem público e do interesse geral, que é o que um ministro em democracia tem mesmo de fazer. Sobre uma equipa que, afinal, vai só fazer cumprir com o seu trabalho, nada fácil, o que diz a lei e a Constituição, zelando pelos bens que cada cidadão lhe confia para gerir. Que, sem preconceitos, conta com todos os que de boa-fé sigam também esses princípios que às vezes parecem ter morrido e é necessário ressuscitar. Queria fazer uma crónica sobre a nova gestão anunciada dos contratos de associação entre o Estado e as escolas privadas que prestam serviço público, e não as escolas que não prestam a não ser para que alguns tratem das suas vidinhas à custa de todos. E fiz. Depois lembrei-me do outsider. E dei-lhe as boas-vindas ao texto da minha crónica.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira (crónica na rádio diana)