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Conselheiro de Estado?

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Decorreu a semana passada o primeiro Conselho de Estado do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa. Marcelo decidiu convidar para esta primeira reunião o presidente do Banco Central Europeu - Mário Draghi. Admito que poderão haver várias leituras possíveis sobre este convite. Permitam-me que lhes partilhe a minha.
Marcelo fez uma campanha inteligente. Sabendo que seria o único candidato da direita, era ao centro-esquerda que teria de ir seduzir votos. Com certeza que lhe custou dizer continuamente que confiava na solução governativa resultante de um acordo histórico à esquerda, mas foi esta estratégia que o fez conquistar simpatia num campo político que não é o seu. Esta estratégia teve ainda outro objectivo – o de mostrar claramente que não confia na liderança de Pedro Passos Coelho num partido, que não nos esqueçamos, é o seu.
Ainda que diga que confia na solução governativa, Marcelo ao convidar Mário Draghi, para o seu primeiro Conselho de Estado, quis demonstrar quem considera o seu Conselheiro-Mor – A Política de Austeridade. No primeiro Conselho de Estado mais plural de que há memória, Marcelo quis mostrar que, apesar do parlamento pela primeira vez ter indicado conselheiros claramente de esquerda, é de outros conselhos que se quer rodear.
Mário Draghi, por sua vez, decidiu vir, depois de anos sentado a receber os governantes portugueses a ir ao “beija-mão”, para mostrar que está ao lado do Presidente na receita que querem aplicar.
Fez muito mal Marcelo em convidar Draghi, mas percebe-se porque o fez. Fez mal porque convidou um dos membros da Troika, aquela que nos impôs em conjunto com um governo ultraliberal, austeridade e mais austeridade, traduzida em perda do valor do trabalho, perda de direitos e destruição do Estado Social. Convidou um senhor que não foi eleito para o cargo que exerce, uma nódoa para a cultura democrática que a Europa devia ter. Convidou um senhor que dirige a instituição que não quer permitir que os Bancos Portugueses depois de verem injectados milhões de euros do dinheiro dos contribuintes fiquem na posse do Estado, mas que dá luz verde a qualquer negócio de meia dúzia de tostões que leve a que estes bancos, depois de “limpos”, sejam entregues a privados, criando uma concentração bancária privada perigosíssima. Convidou um senhor que já se sabia que não teria a menor vergonha na cara e que veio a um Conselho de Estado elogiar um Governo que aplicou uma receita que não funcionou e que saiu pela força da Democracia, elogiando as suas grandes reformas. Sabemos bem que reformas foram essas e o que provocaram.
Marcelo convidará quem quiser para o aconselhar. Está no seu direito. Claro que poderemos sempre dizer: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és e o que queres”. Espero que no próximo Conselho de Estado possa convidar – para tomar o pulso do país que Draghi, Coelho, Portas & Afins nos deixaram – um precário, um desempregado, um pensionista, um trabalhador da função pública ou do sector privado, ..., enfim, ... um de nós...
Até para a semana!

Bruno Martins (crónica na radiodiana)

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