E se a Unesco retirar a classificação de Património Mundial a Évora?
A venda destes terrenos públicos "por razões financeiras" segue a lógica das PRIVATIZAÇÕES. Vários comentários mencionaram a hipótese segundo a qual essa operação teria como objectivo principal recolher verbas, frente a uma situação financeira difícil que todos reconhecem. O Problema é que o facto de fazer dinheiro alienando os bens públicos é seguir a lógica das privatizações. Lógica destrutiva, primeiro porque o dinheiro dessa privatização não resolve a dívida, e segundo porque OS CUSTOS derivados (económicos, sociais, culturais, mas por ora invisíveis) sugarão os esperados benefícios de curto prazo.
Depois, pense-se no exemplo de Dresde. Em Dresde, a cidade teve que escolher entre construir uma nova ponte contra o parecer da UNESCO e manter a classificação Património Mundial; em referendo a população escolheu a ponte e a cidade perdeu a classificação... E Évora? Está pronta para renunciar? Não sei como reagirá a UNESCO neste caso. Mas as opiniões de responsáveis locais, regionais e nacionais que duvidam da compatibilidade entre esse centro comercial na área do que devia ser a "zona de protecção" e o carácter patrimonial da cidade.
José Rodrigues Dos Santos
17 dezembro, 2015 10:43
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Dois anos sem definição estratégica para o que quer que seja em matéria de património
Meu caro Rodrigues dos Santos, e se retirarem a classificação à cidade? pergunta. Se tirarem, chorar-se-ão lágrimas de crocodilo, abrir-se-ão as bocas e olhos de espanto por tão injusta decisão, arrepelar-se-ão cabelos de raiva, imputar-se-ão responsabilidades a terceiros e ...no final ao quarto dia não se fará luz!
Estar-se-ão nas tintas para tal eventualidade? Não se quereria crer, mas de facto só quem se está nas tintas para esse "detalhe"é que desconsidera a opinião de tanta gente especialista em património, em ordenamento do território, de comerciantes, de moradores...e se prepara para comprometer o futuro sem, ao menos, uma avaliação séria de todas as envolventes.
Enquanto se anda a aplaudir a classificação dos chocalhos ou do cante, despreza-se o que se tem na cidade.
E ironia ... o Executivo que aprovou a venda dos terrenos é da CDU, a mesma força politica que há décadas foi capaz de romper com o imobilismo e conseguir a classificação da cidade como património da Humanidade.
A mesma força politica que, com o BE, se opôs à aprovação da alteração ao PU permitindo a construção do Centro comercial nos terrenos que agora quer vender.
A mesma força política que dantes, contra a autorização de um CC, na Assembleia Municipal esgrimia - e bem - a necessidade de não matar o comércio e a vida no centro histórico.
Hoje, o criador prepara-se para matar a criatura, sucumbindo a interesses financeiros e demonstrando que de facto não há política de defesa do património.
Não é só esta decisão. Veja-se que em 2 anos não há definição estratégica para o que quer que seja em matéria de património; não há definição Plano de Salvaguarda nem de Zona de Protecção especial do Centro Histórico; não há proposta apresentada à AM para a definição das áreas de recuperação urbana (ARU's,)
Espero ( sem grande esperança, confesso ) que na Assembleia Municipal, amanhã, os deputados municipais - pelo menos os de esquerda - consigam interpretar a responsabilidade da decisão que lhes é pedida
Maria Helena Figueiredo
17 dezembro, 2015 17:19
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A área de implantação do Centro Comercial equivale a mais de 8,5% do cento do Centro Histórico
Os 9,8 hectares de área de implantação do futuro centro comercial, que a empresa Sonae Sierra se propõe construir junto à Porta de Aviz, correspondem a mais de 8,5% da superfície total do Centro Histórico de Évora, um espaço equivalente a dez campos de futebol, adjacente à muralha e ao aqueduto da Água de Prata.
A expressividade desta grandeza já seria, por si só, razão bastante para nos interrogarmos sobre o acerto da recente decisão de vender os terrenos municipais para o efeito, unânimemente tomada pelo executivo camarário, e amanhã submetida a sentença definitiva na Assembleia Municipal de Évora.
Mas há outros motivos de preocupação.
Desde logo a circunstância de estarmos em presença de um conjunto patrimonial que pertence à humanidade e a classificação da UNESCO coloca à guarda - que se presume responsável - das autoridades nacionais, delas esperando o cuidado com a sua preservação.
A manutenção do estatuto outorgado pela UNESCO, há quase trinta anos atrás, pressupõe que as referidas autoridades nacionais (em que, naturalmente, tem especial responsabilidade a administração autárquica) implementem mecanismos de protecção daquele património.
Entre estes avulta a Zona Especial de Protecção (ZEP), cuja função primeira é a salvaguarda das vistas (skyline) do conjunto edificado do Centro Histórico de Évora. Sem entrar em detalhes de natureza técnica, pode afirmar-se que a construção do conjunto comercial em perspectiva seria impossível caso já vigorasse, como devia, este instrumento de prevenção que, sublinha-se, é condição indispensável à manutenção da classificação de património da humanidade.
E não se trata da afirmação de uma mera questão de orgulho cidadão: a economia do concelho tem uma dependência crítica da actividade turística e esta é, em parte substancial, função da visibilidade e da projecção nacional e internacional da cidade.
Finalmente, argumentar com o alívio financeiro, para o município, decorrente do produto da venda dos terrenos - argumento que a própria câmara não se atreve a esgrimir - não é razoável, porquanto o valor eventualmente apurado não ultrapassará 5% do montante global da dívida da autarquia eborense.
Resta-nos esperar que o bom senso da clarividência marquem presença no salão nobre da Câmara Municipal de Évora quando, amanhã, os deputados municipais forem chamados a sancionar a imprudente decisão do executivo camarário.
José Eliseu Pinto
18 dezembro, 2015 00:14
18 dezembro, 2015 00:14