Dois textos-resposta motivados pela crónica de José Policarpo (na rádio diana e no acincotons) sobre a possibilidade de ser construído um centro comercial em Évora, em terrenos actualmente em posse da Câmara, junto à Porta de Avis.
Fora de qualquer polémica partidária, o que está em causa não é a conformidade ou não com um PDM, que autoriza, mas não exige. O que está em causa é a relação entre esse projecto e o Centro Histórico. Uma das linhas estratégicas reconhecidas há mais de trinta anos (PCP, PS, com anuência, pelo menos, do PSD), é a da REVITALIZAÇÃO do Centro Histórico (CH). Em 1986, a classificação pela Unesco incluía (e muito bem) essa cláusula. Tem sido difícil parar o abandono do CH, quanto mais revitalizá-lo. Lógicas pesadas estão em jogo, que não são apenas, neste caso, os habituais e poderosos interesses económicos, mas sim o facto que as pessoas têm escolhido, por conveniência própria, construir, comprar ou alugar casa fora das muralhas. Os constrangimentos próprios dum espaço urbano em que, mesmo dando como tem sido feito, uma enorme prioridade ao automóvel em relação aos peões, a acessibilidade "à maneira antiga", isto é com o carro ao pé da porta, continua a ser um esquema preferencial para a escolha do local onde habitar. Maneira antiga porque a fase histórica do "todo automóvel" está desde já atrás de nós, e as cidades têm obrigatoriamente que inventar novos modos de relacionamento dos habitantes com o espaço urbano. Ora, na minha modesta opinião, e salvo demonstração em contrário, a construção dum centro comercial às portas da cidade terá um efeito de "aspiração" da actividade para fora das muralhas. Existirão estudos sobre o impacto dessa implantação sobre o comércio intra-muros. E sobre a circulação (automóvel!) na via de "circunvalação", sabendo que a infraestrutura que maior impacto positivo teria na vida quotidiana de quem circula, vive e trabalha em Évora seria a sempre "planeada" e jamais realizada variante exterior, à volta do centro da cidade. Não ignoro os argumentos a favor desses "centros comerciais": atractividade a mais longa distância, comodidade de estacionamento (ainda ele), presença de lojas "de marca", circulação dos clientes em espaço coberto, etc. Mas perdoem-me, estou em crer que a maior parte dessas "vantagens" se resumem a esquemas consumistas que exprimem a alienação a formas de vida ultrapassadas, a mitos já defuntos ou a falhas de raciocínio (seja por exemplo o caso do estacionamento: o "centro" (periférico!!!) terá estacionamento, mas esse problema é causado por ele, e agrava o problema nos outros acessos: transfere-se o problema para outros locais e agrava-se). Em meu entender, a questão do tal centro deveria ser encarada (e há quem o tenha feito, mas foram essas pessoas verdadeiramente escutadas?) no âmbito do esquema urbano de conjunto. E por mais séria que tenha sido a sua elaboração, o facto é que terá que ser revisto, rediscutido, reavaliado. Talvez a justificada inquietação que suscita esse projecto possa ser o momento em que, antes de decidir pontualmente uma afectação desse espaço privilegiado a um projecto cheio de incógnitas, se repense a cidade.
Não imagino que nenhum dos partidos com ou sem representação na Assembleia Municipal possa, por razões de política partidária, contestar que o momento é o da reflexão, antes da decisão.
JRdS /Évora ( Dezembro de 2015)
*
Palavras de pouca valia estas do Dr Policarpo, dirigente do PSD...candidato a deputado.
O PSD é um apoiante de primeira hora da venda dos terrenos municipais às Portas d'Avis para viabilização da construção de um Centro Comercial.
Disse-o há muitos meses, sem pejos, quem representa o partido. Demonstra-o a posição no executivo que já aprovou (ainda que não formalmente) a venda.
O Bloco de Esquerda tem, aliás, sido o único partido que nas reuniões havidas na Camara e formalmente se tem manifestado contra este atentado ao património. Sim porque construir um Centro Comercial naquele preciso local não é senão um atentado ao património de todos nós e da Humanidade.
Ainda ontem no último dos 3 debates promovidos pelo Pro-Évora ficou, preto no branco e por quem é insuspeito, expressa a motivação que levou o anterior executivo a alterar o PU em 2011 permitindo ali a construção de uma grande superfície comercial e o actual executivo da CDU a desdizer tudo o que tinha dito nos últimos anos e a fazer agora a obra do regime.
Como ficou bem expresso que, se se quisesse um Centro Comercial junto à muralha a localização deveria ser no Raimundo, onde hoje se situa o Hotel Vila Galé, solução queimada sabe-se lá porquê.
Ontem ficou assustadoramente visível em mapa qual a área do Centro Comercial a viabilizar pela Câmara, muito maior que a do Alegro de Alfragide. Uma que descaracterizará toda a área e a nossa identidade.
Maria Helena Figueiredo (aqui)