Évora assinala hoje sem pompa nem circunstância (apenas com uma pequena cerimónia simbólica) o facto do seu Centro Histórico ter sido classificado há 29 anos como Património da Humanidade pela UNESCO. Há 4 anos, num momento em que a Câmara de Évora ainda era liderada pelo PS, o movimento "A Cultura está Viva e manifesta-se na Rua" convocou uma concentração junto ao Salão Central, símbolo máximo do estado de degradação a que o património na cidade de Évora tinha chegado. Deste movimento faziam parte elementos que hoje pertencem à maioria que dirige a Câmara nos últimos dois anos. Mas a verdade é que o estado de abandono a que o Património esteve votado continua. Não existem Planos de Salvaguarda, o Património é diariamente esquecido, a Praça do Giraldo, depois da pequena "lavagem de cara" pós-eleitoral que teve, mergulha no marasmo e na degradação verificada nos últimos anos.
Percebe-se que o município, envergonhado, não comemore condignamente esta data, dado o estado de degradação do Património de que é o primeiro responsável e que continua a degradar-se (ainda pondo em risco a classificação de Património da Humanidade como a actual maioria tanto referiu em tempos de campanha eleitoral?) e num momento em se prepara para alienar 30 mil metros públicos de terreno, junto ao Centro Histórico, para um Centro Comercial, quando no Parque Industrial existe um Centro Comercial em construção há mais de quatro anos... Claro que se percebe. O que não se percebe é o silêncio da oposição e da opinião pública anestesiada por muitas doses de propaganda, silenciada pelos acordos de Governo a nível nacional (no que ao PS e BE diz respeito) e já habituada ao deixa andar. Se há quatro anos era urgente recuperar o Salão Central e cuidar do Centro Histórico, parando a degradação avassaladora e revitalizando-o com novas actividades e novos actores - hoje é mais do que urgente, deve ser prioritário.
Talvez que para o ano se volte a falar mais do Património da Humanidade - sempre se vão comemorar os 30 anos e aproxima-se a campanha eleitoral para as autárquicas. Mas o Património, esse, não pode nem deve viver no ciclo das grandes promessas eleitorais e depois no descalabro das práticas concretas. Património? Cultura? Na oposição tudo é possível, depois é o abandono a que vamos assistindo.
Mas continua actual, com novas entidades a co-responsabilizar, o manifesto aprovado há exactamente quatro anos, numa noite fria como a de hoje, pelas dezenas de pessoas que se reuniram junto ao Salão Central e em nome do Património da Humanidade e que aqui deixo:
Moção
Hoje sexta-feira, 25 de Novembro - dia em que se assinala o 25º aniversário da classificação doCentro Histórico de Évora como Património Mundial - um grupo de cidadãos vai assinalar a data com uma concentração/vigília junto ao Salão Central Eborense, cuja degradação é o símbolo do pouco apreço que os poderes públicos têm manifestado pela cultura e pelos seus agentes na cidade de Évora e que hoje se traduz em dívidas relativas aos apoios acordados de parte do ano de 2009, ano de 2010 e já de 2011 aos agentes culturais, muitos deles com salários em atraso e colocando alguns grupos mesmo em risco de extinção.
De entre as várias actividades programadas para esta Assembleia de Rua, no Pátio do Salema, a partir das 18 horas constam pinturas, música, intervenções e a apresentação de uma moção, para ser debatida e aprovada, em que se exige:
1) Que a Câmara Municipal e as entidades oficiais (Ministério da Educação, da Cultura, etc.) tenham uma nova atenção para os agentes culturais locais, recorrendo a eles sempre que possível, e estimulando o seu trabalho a troco de compensações financeiras adequadas;
2) Que a Câmara Municipal cumpra as suas obrigações com os grupos e agentes culturais do concelho, comprometendo-se a pagar a tempo e horas os subsídios e apoios a que livremente se comprometeu e cujo não pagamento está a estrangular financeiramente muitas destas entidades;
3) Que, depois de várias promessas nunca concretizadas – desde a constituição da Évora Régis há dois anos, até a declarações posteriores do presidente de Câmara de que a obra iria avançar – seja encontrada disponibilidade financeira para a recuperação do Salão Central, um espaço único e imprescindível para a realização de espectáculos de alguma dimensão em Évora (a Arena não tem quaisquer condições para espectáculos de palco);
4) Que a Câmara e a Assembleia Municipal alterem a legislação local com vista a possibilitar e potenciar as actuações e performances de rua por parte de artistas locais e visitantes, uma vez que a actual legislação impõe regras que não se coadunam com práticas culturais espontâneas, tais como as que se assistem em qualquer centro histórico de variadíssimas cidades pela Europa e pelo mundo fora.
5) Que a Câmara Municipal de Évora cumpra a legislação em vigor e pressione os privados e instituições a recuperar os edifícios degradados do centro histórico.
6) Que já esta Primavera e Verão, a Câmara Municipal anime os espaços nobres da cidade com um Festival de Rua, juntando várias expressões artísticas, com base nos artistas e grupos locais que, de forma rotativa e segundo um calendário estabelecido, poderiam assegurar a animação de algumas das principais praças e largos de Évora, durante os meses de maior afluxo turístico, dando-lhes possibilidade de mostrarem o seu trabalho e de o rentabilizarem economicamente.
25/11/2011
CJ