“Olhos que não vêem, coração que não sente”. Tantas vezes ouvi a minha mãe a repetir esta frase ao longo da minha vida, e tanto me tenho lembrado dela nestes últimos dias.
Graças à comunicação social portuguesa tivemos uma visão em directo e detalhada do ataque terrorista em Paris na passada sexta-feira. Todos nos emocionámos com as imagens e não é caso para menos. Sentimos perto o terror de centenas de inocentes, vimos vidas humanas a ser dizimadas injustamente. O terror bateu-nos à porta, os nossos olhos viram, o nosso coração sentiu.
Mas um coração pleno não se contenta com uma visão selectiva. Bem sei que é difícil abrir o coração e sentir dor todos os dias a olhar para as mortes inocentes na Síria, no Afeganistão, no Quénia, na Nigéria, na Líbia, no Iraque, mas sem esta dor não podemos ser verdadeiramente solidários, compreensivos e promovermos a paz.
Compreendo que a proximidade tenha levado a esta onda de solidariedade, mas a solidariedade é um valor demasiado nobre para ser exclusivo de uma raça, de uma etnia, de um continente ou nacionalidade.
Os atentados de sexta-feira permitiram-nos conhecer números exactos, foram contadas histórias sobre as vítimas mortais e sobreviventes, foram partilhadas fotografias com rostos. Ficam tantos outros números por apurar (desde logo, por exemplo, do ataque francês que ocorreu sobre a Síria no domingo), tantas outras histórias por contar, tantos rostos desconhecidos. Cidadãos e cidadãs deste nosso mundo, tão inocentes como quaisquer outros, cujas vidas têm tanta dignidade e importância como as nossas. Os nossos corações não podem deixar de sentir por não nos ser dada a visão clara.
A resposta ao extremismo não se encontra na raiva ou no preconceito fácil. A resposta ao extremismo não se encontra na pseudo segurança de muros e barreiras... Teremos mesmo de responder ao extremismo com políticas de justiça e solidariedade e saber perceber o que está em causa por trás de todos estes actos.
A cara do terrorismo é conhecida e amplamente divulgada, mas os cérebros destas acções deverão ser a fonte da nossa preocupação, investigação e denuncia.
A bandeira da França percorre o mundo, e tudo o que precisamos é que os valores que ela representam se espalhem: LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE. A resposta está nestes valores e que tão pouco ocidentais têm sido...
Até para a semana!
Bruno Martins (crónica na radio diana)