A construção ou não de um centro comercial em Évora, é uma questão eminentemente da esfera do interesse privado. Se é ou não rentável, deverão ser os promotores da iniciativa a fazer essa avaliação.
O poder político só deverá intervir quando o interesse privado colide com o interesse público. Isto é, quando as intenções dos privados colocam em perigo questões ambientais, de preservação do património cultural e outros direitos atinentes ao bem-estar das populações.
Porém, se estivermos a falar da construção de um centro comercial nas imediações do centro histórico de Évora e junto ao aqueduto da água de prata, não me parece que seja uma questão eminentemente, da esfera do interesse dos particulares. É, com o devido respeito por opinião em contrário, irrefutavelmente, do interesse público e deverá ser seguida com a maior das cautelas e dos cuidados.
Dito isto, na entrevista dada esta semana pelo Dr. Pinto Sá ao Diário do Sul, não obstante ser dito que a discussão sobre a possibilidade da construção de um centro comercial às Portas de Avis, fora pública e envolveu muitos representantes do associativismo eborense e das forças politicas, pareceu-me, no entanto, muito pouco esclarecedora. Por isso, deverá a Câmara municipal informar a população, com o detalhe possível o projecto que sustenta o aludido centro comercial.
Na verdade, reconduzir esta questão, unicamente, à venda ou não dos terrenos de que Câmara é proprietária, é muito pouco para a dimensão do impacte que uma construção de uma infra-estrutura com esta natureza poderá representar para o património existente e para a mobilidade das pessoas que residem na cidade.
Em suma, caberá ao executivo camarário a decisão politica de vender ou não vender os terrenos de que é proprietária às Portas de Avis. Mas, como cidadão e como dirigente politico tenho o dever e o direito de exigir aos representantes do Município de Évora que esclareçam os seus munícipes e de lhes dizer qual a verdadeira dimensão do projecto no seu detalhe, e, a existirem, quais as contra-partidas a disponibilizar pelos interessados nos terrenos a beneficio da cidade e dos eborenses. Deste modo, passar um “cheque em branco” à Câmara Municipal de Évora e não condicionar esta matéria aos pressupostos anteriormente referidos, seria um erro com consequências porventura irremediáveis para o futuro da nossa cidade.
José Policarpo (crónica na rádio diana)