Joaquim Palminha da silva |
1
Corria o ano de 1846… A revolução da Maria da Fonte acabara de rasgar o País, de norte a sul, em partidos de facínoras, que todavia não abafavam os gritos de protesto popular contra os impostos que, a pretexto de “modernizarem” Portugal, o ministro da rainha D. Maria II, Costa Cabral, havia lançado.
Nessa época, a luta política era violenta, e desconcertante…
O ano de 1846 começou mal: - Maus resultados agrícolas, agravados pela praga que atacou a batata, seguida de intensa seca, de que resultou aumento do preço dos cereais e dos produtos de primeira necessidade, baixa dos salários camponeses, crise geral de subsistência… O mal-estar social que fermentava…
Em Abril, despoletaram-se espontaneamente motins populares em Vieira do Minho (Fonte Arcada), contra as novas leis tributárias e de saúde pública, proibindo os enterramentos no piso das igrejas e nos terrenos circunvizinhos. – O facto é que não se havia prevenido a existência de cemitérios públicos, pelos que os mortos passavam a ser sepultados em terrenos abandonados, devassados pelos animais…
Os motins engrossam, e transformaram-se em revolução popular! – A Revolução da Maria da Fonte!
Estátua evocativa da Maria da Fonte, em jardim público de Lisboa.
A 6 de Outubro estava tudo consumado… A partir de Madrid, o ditador Costa Cabral, que havia sido destituído, organiza com o acordo da rainha um golpe de Estado… De 8 de Outubro até Junho de 1847, a sublevação popular, desta vez com algumas figuras da nobreza liberal a tutelarem e comandarem os populares, insurgem-se contra o golpe de Estado, o movimento é então denominado de Patuleia, termo que significava “pata ao léu”, isto é, “pé descalço”! – As estrofes do Hino da Maria da Fonteeram entoadas com ardor pelas hostes populares: «Fugi, déspotas! Fugi, / Vós algozes da Nação! / Livre a Pátria vos repulsa! / Terminou a escravidão, / …». Entretanto, do seio do movimento popular, saía um personagem romântico, justiceiro por conta própria, o José do Telhado…
Ataque e cerco da cidade de Évora (que havia aderindo à Patuleia) pelas forças cabralistas, fiéis à rainha, em Março de 1847, segundo estampa existente no Arquivo Histórico e Militar (Lisboa).
Completamente aterrorizado com a Patuleiaque, entretanto, começava a tomar algumas cores republicanas, para por fim às juntas revolucionárias que se formam em muitas cidades do País (Évora fui uma destas cidades!), o Governo não olha a meios e, de todos eles, socorre-se do mais abjecto: - Ao abrigo dos acordos da Quádrupla Aliança(espécie de “frente” monárquica conservadora europeia) solicita a intervenção militar estrangeira em território português, que envolveu a Espanha, a Inglaterra e a França, decidindo-se assim a vitória da Monarquia e do Poder ditatorial de D.Maria II e seus ministros.
(continua)