Joaquim Palminha da Silva |
A ira ofusca a razão da mente e cega a luz da alma. A ira é um dos sete pecados capitais! - Porém, a indignação é um sentimento nobre, porque emerge e ressalta face a um ultraje, a uma injustiça, a uma escusada agressividade.
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A chamada «boa educação» faz-nos parecer artificialmente, como gostaríamos de ser… naturalmente. Por vezes, quando o treino é muito, consegue-o. – Uma cosmética útil, a «boa educação»! Mas não passa, na maioria dos casos, da mímica da decência moral e de acrobacias sociais… Basta um momento péssimo, e a máscara cai-nos aos pés!
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No que me diz respeito, já escolhi há muito tempo. Prefiro, segundo os casos, a desenfreada bofetada da verdade em campo aberto, ou então o franco aperto de mão que se dá ao vencedor, o abraço leal a quem se cansou para me dar mais luz e alegria espiritual… Mas hoje, não mais se quer o branco puro ou o negro original. Carregado de conveniências, o Homem actual prefere o cinzento… - A cor parda de quem não arrisca escolher, de quem procura a dissimulação contínua!
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Nunca percebi porque os poderosos, os que governam o mundo, exibem a máscara facial de um alarve sorriso! – Por necessidade (publicitária) do seu desempenho profissional?
Gente geralmente pobre de princípios cristãos e sentimentos humanos, exibem nas maçãs do rosto o sorriso dos cínicos! – A Terra está encharcada do sangue de povos inquietos e nações despeitadas, as tentativas de paz e reconciliação falham constantemente, todavia os que dirigem e mandam no mundo sorriem!
Não vejo, pois, por que é que esta gente se entretêm a exibir o seu sorriso obsceno… - Só por malignidade (criminosa) ou idiotice psíquica pode sorrir para a multidão aquele que manda e governa! – Não há nada de que rir neste nosso mundo!
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Que ilusão da realidade de nós próprios é a fotografia! – Os clientes, a gente simples ou irreflectida, pede ao fotógrafo um retrato que seja à sua imagem e semelhança… Mas esta pretensão é absurda!
Um ser humano, qualquer que ele seja, não é nunca o mesmo todos os dias. As mutáveis vicissitudes da existência e os estados da alma humana refletem-se, constantemente, nas nossas faces, multiplicam e diversificam, no decurso do tempo, as condições físicas do nosso corpo. Qual é, pois, o verdadeiro eu de cada um? Qual é a nossa autêntica imagem? - Uma fotografia é sempre passado! O instante que ela regista (petrifica) deixou de existir! As colecções de retratos, de todo o tipo de retratos, são “documentos” de antropologia histórica!
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Como pode haver gente que trata mal ou despreza a existência da árvore?! – Penso nisto todas as vezes que, por consentimento da precária saúde, vou passear ao “moribundo” Jardim Público de Évora!
Que é, na realidade, uma árvore? – É uma prodigiosa “fábrica” de “milagres” quotidianos!
Com as suas raízes ocultas na escuridão da terra, ela seleciona, puxa, atrai, os obscuros e rudes átomos subterrâneos para erguê-los à luz da superfície, depois de os transformar e sublimar. Eis, por conseguinte, as folhas, que são carnudos lábios verdes para respirar e serem beijados pelo Sol! Eis as flores, que são o sedutor desejo de fecundidade! Eis por fim os frutos, que são a evidência amorosa da maternidade, tão útil ao Homem!
Sob o seu espesso copado, protegem-se nos seus ninhos as aves chilreantes. Entretanto, a sua copa, mais ou menos densa é órgão, para a música “sacra” que o vento lhe sopra. Por fim, acolhem-se à sua sombra benigna velhos “peregrinos” desamparados (como eu!), casais de namorados que ainda acreditam na esperança e crianças risonhas, nestes fins de tarde de Verão…
A árvore do Jardim, e a forma como é tratada, pode revelar-nos muito da ingratidão, insensibilidade e blasfémia contra-natura, que são os serviços municipais de jardinagem de uma cidade!