Um painel de azulejos glorificando a vida, da autoria do arquitecto Siza Vieira, vai ser colocado no interior da Igreja/Convento de S. Francisco entre o respectivo templo e a célebre Capela dos Ossos, como forma de amenizar a impressão mórbida que se apossa dos visitantes após terem travado conhecimento com a macabra obra de concepção neo-barroca, também conhecida por Casa dos Desenganos, composta por milhares de ossadas humanas retiradas dos cemitérios da cidade durante a dominação filipina.
Este é, pelo menos, o anúncio e a justificação que tem sido apresentada aos fiéis pelo pároco da freguesia de S.Pedro, cónego Manuel da Silva Ferreira, para a futura colocação do painel, encomendado a Siza Vieira, naquele local. No decurso da semana o padre tem-se empenhado em convidar os frequentadores daquela Igreja, a apreciar o desenho do mesmo e a passar pelo local onde o mesmo ficará instalado, dependência onde esteve há poucos anos colocada a imagem do Senhor Jesus dos Passos.
A obra, de linguagem conceptual modernista e que se antevê venha a ser alvo de intensa e grossa polémica, faz parte do programa de Requalificação e Recuperação da Igreja/ Convento, o qual representa um investimento de 4,2 milhões de euros por parte da respectiva paróquia, contemplando obras de restauro, estruturas e consolidações, infra-estruturas eléctricas e mecânicas, museológicas, águas e esgotos e acessibilidades exteriores. No mesmo âmbito se integra igualmente a construção de um elevador que levará até ao primeiro andar onde serão recuperadas as celas dos antigos monges.
Publicado o respectivo concurso de realização das obras em anúncio de procedimento em Diário da República do dia 20/3/2013 as mesmas já foram adjudicadas sendo o prazo de execução de 18 meses. Apesar de se estar em face de um edifício considerado como Monumento Nacional e integrado no Centro Histórico abrangido pelo estatuto de Património Mundial atribuído pela UNESCO estranha-se o silêncio sobre o assunto das entidades responsáveis e a divulgação do projecto, apenas conhecido em círculos eclesiásticos restritos e agora difundidos entre os fiéis praticantes, de um assunto que diz respeito à cidade e à cultura nacional.
José Frota (via email)