De 17 de Junho a 17 de Julho, a Igreja de São Vicente acolhe uma exposição especial, uma exposição necessária. Trata-se da exposição dedicada à obra de José Carlos Cachatra (1933-1974). O pintor alentejano, natural de Borba, residiu grande parte da sua vida em Évora e deixou uma obra significativa no modo como representa este território, as suas figuras e as suas paisagens, ecoando ao mesmo tempo a herança modernista portuguesa e europeia na composição e nos estilos, no traço largo e impressivo, na sensorialidade do espaço, da luz e da cor. A obra de Cachatra encontra-se sobretudo na mão de particulares, razão pela qual se expõe raramente e pode, por isso, considerar-se maioritariamente desconhecida. A esta exposição associaram-se generosamente 17 proprietários, aos quais queremos expressar os nossos agradecimentos. Esta é a primeira exposição de um conjunto significativo de peças de José Cachatra depois da que o Grupo Pró-Évora lhe dedicou, em 1991. Constitui uma nova oportunidade para a cidade e os seus visitantes conhecerem a obra deste pintor que alguns classificaram como "maldito", tendo em conta a sua curta e malograda vida. Com esta exposição perspectiva-se, pois, a proposta de abertura dos arquivos culturais da pintura eborense, um trajecto que, em termos de programação, esperamos poder continuar no futuro próximo. E contamos com a vossa presença!
Nota biográfica
José Carlos Cachatra (16 de agosto de 1933 - 18 de abril de 1974) nasceu em Borba, filho de Carlos José Cachatra e Vicência da Silva Bento. Após a escolaridade primária, estudou no Colégio Bartolomeu Dias, em Algés, entre 1944 e 1948, ano em que a família veio para Évora. José Carlos Cachatra frequenta aqui o Colégio Nun’ Álvares, onde termina, em 1950, o 5º ano dos Liceus. Até 1955 continua a estudar, conclui o 7º ano e faz o exame de admissão às Belas Artes, em Lisboa. Nesse ano é chamado para a tropa, que faz como oficial miliciano aviador. Sai em Agosto de 1958, tem 25 anos. Decide então regressar às Belas Artes, fazendo os 1º e 2º anos num só. No ano lectivo de 1959-1960 matricula-se nos 3º e 4º anos, começando a leccionar na Escola de Artes Decorativas António Arroio (em Lisboa), onde trabalhará até à conclusão do seu curso. Em 1963 vem leccionar no Liceu de Évora, recusando uma proposta de reintegração na carreira militar como Tenente. Permanece no Liceu até 1965, ano em que um eventual desentendimento com o Reitor Adelino Marques de Almeida terá causado a sua saída do Liceu. A mãe morre nesse mesmo ano (a 31 de dezembro), o pai pouco depois (1967). Desde o seu regresso a Évora, em 1963, Cachatra pinta abundantemente, muitas vezes por encomenda.
Após a saída do Liceu e a morte dos pais, Cachatra vê agravarem-se os sinais da doença que se manifestava desde 1960, com internamentos ocasionais no Júlio de Matos e no Miguel Bombarda. São frequentes os seus ‘desaparecimentos’ de Évora, por períodos longos, por vezes com destino a Lisboa ou Coimbra. Cachatra frequentou nesta época a Trave, tendo exposto na Galeria do SNI, em Lisboa, em 1968, integrado naquele colectivo (juntamente com Cândido Teles, Paulino Ramos, José Belém, Ilídio, Gabriel Silva (escultura) e Francisco Lagarto em cerâmica). Nos anos seguintes, pinta e vende quadros no Café Arcada, em Évora, café que frequentava assiduamente, enquanto o seu estado de saúde se agrava. Morre em 1974 no Hospital do Rego (Curry Cabral), em Lisboa, vítima de tuberculose. A obra de Cachatra encontra-se dispersa por colecções particulares, tendo sido parcialmente exposta em 1991, pelo Grupo Pró-Évora. (nota de imprensa)