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A Pátria é o lugar perpétuo onde a saudade namora a tradição ao luar do futuro (10 de Junho de 2015)

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Joaquim Palminha da Silva
«La Patrie, ce sont les souvenirs d’enfance»

- Jean Giraudoux (escritor e dramaturgo francês, 1882-1944).

            A sociedade contemporânea vive na precipitação do contingente e do acidental, servida pela vadiagem mental dos meios de comunicação social, pelo que, por isso, não se apercebe senão do acidental e do passageiro. E assim nos viciam no transitório e nos intoxicam com o fátuo, isto é, com o que criámos ou julgámos criar na hora que passa.
Porquê na hora que passa? – Porque é a única que interessa ao vulgo, por não ser de ontem, nem ser, provavelmente de amanhã. Por ser um momento, o “seu” momento de vida… Tão rápido passa o momento que é quase não nada! Como pode, pois, ser entregue ao que apenas vive o momento que passa parte substancial da guarda da Pátria, onde a saudade namora a tradição ao luar do futuro?
Dito de outra forma: - Pode de facto ser entregue, mas o resultado desta guardaé catastrófico! Está à vista de todos! Estes vulgares “guardiões” de cartão e cola a quem, obrigatoriamente por via eleitoral*, se entregou a guarda da Pátria, tem esquecido tudo, tem vendido tudo, tem prostituído tudo!
 *
         Esta gentinha de rebotalho diz: - “O passado, passou! Não se vive, não se pode viver da lembrança dos mortos”… Porém, acontece que na sua preocupação de simplificar e reduzir tudo a resumos rígidos, e a expressão das ideias a fórmulas de promoção publicitária, concluem que é já passado e morto e o que ainda, e sempre, vive na sua consciência colectiva, queiram ou não! Exactamente o que vive em todos e, além do mais, o que não morrerá connosco, o que nos sobreviverá!
ExactamenteO que vive em nós mais vivo, é o que já vivia antes de nós virmos ao mundo, e permanecerá depois de deixarmos este vale de lágrimas: - É a herança religiosa e cultural, bem como o património material acumulado por gerações, século após século, que nos foi legado e, entretanto, nós afeiçoamos às circunstâncias históricas do nosso tempo e, depois, segundo a nossa capacidade e possibilidade material, transmitimos.
Esta é que é a grave questão que os portugueses de hoje devem colocar a si mesmos, e tentar resolver de maneira satisfatória: - Como vamos recolher das gerações passadas e transmitir às gerações futuras o património dos mais altos valores do espírito lusíada, que nos foi legado não para o desbaratarmos, mas para o acrescentarmos com um labor pacífico e constante? 
Como vamos passar o sagrado testemunho, se os guardiães da Pátria não passam de lacaios engraxadores dos donos da Europa e, sabendo que estes apetecem nacos de Portugal, dispõem-se a facultar-lhes pedaço disto, pedaço daquilo?
Sim! - Como vamos legar a continuidade da Pátria, se as novas gerações nada sabem da Pátria?! Se as novas gerações não foram ensinadas a identificar a Pátria com o lugar onde a saudade namora a tradição ao luar do futuro?!
O jovem português contemporâneo, afeito a mudar de casa quando calha, a atar e a desatar amizades ou simplesmente a esquecê-las a toda a hora, a viver na lufa-lufa incaracterística da cidade moderna (ou nas cidadezinhas de província que praticam as imitações cosmopolitas); o jovem cidadão não sente, não compreende, nem respeita a alma das cidades onde passeia o seu “exílio” de filho, neto e bisneto de camponeses,
ainda ontem a sacudir a terra dos sapatos, vítima dos erros da educação “moderna” despegada de interesses superiores aos seus egoísmos e à sua estreita preocupação de conforto, de consumidor incontido… Este jovem, não compreende o patriotismo, feito de amor à terra e à tradição. Este jovem, íamos dizendo, não sabe o que seja a Pátria, porque não sabe o que seja ser português! Este jovem perdeu a sua identificação!
“Alguém” lhe disse e o convenceu, algures nestas últimas décadas, que a tradição histórica, aquilo que é a vida do espírito nacional não passa de um “concentrado ideológico reacionário”. “Alguém” lhe adulterou o significado do conceito de tradiçãoque, emparceirado com a palavra Pátria, passou supostamente a definir uma linha de pensamento de “direita” e, assim, como quem não quer a coisa, a “transformar” o tradicional patriota num “refinado”conservador.
É urgente, pois, devolver-lhe o antigo bilhete de identidade!
É urgente explicar nas Escolas que um povo é uma criação colectiva contínua e que há, em todo o povo vivo, também, uma força criadora que se desenvolve e manifesta na organização secular da sua própria continuidade no espaço e no tempo, apesar das atribulações da História. Durante a sua existência, este povo, sob a influência dessa original força criadora (que o traz unido) transforma-se em Nação, cria uma tradição, deixa herdeiros, responsáveis pelo futuro do seu património.
Portugal nasceu num espaço geográfico de encontro religioso e cultural, entre a Europa e a África, o Atlântico e o Mediterrâneo, e entre as civilizações cristã, islâmica e judaica. Tudo isto é do exclusivo domínio do povo português. Não pertence a nenhum outro povo e, por conseguinte, constituí a ideia directriz da sua evoluçãoatravés dos séculos.
É preciso cumprir junto das novas gerações, agora que regressamos a casa vindos da aventura marítima e do exagero colonial , a ordem que o mestre de Avis (depois D. João I), deu a um dos nossos maiores, D. Nuno Álvares Pereira (S. Nuno de Santa Maria), a quem mandou «pregar pelo Reino o evangelho português» …
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*Não estou a “julgar” a eficácia da Democracia em geral. Apenas constato o facto de o actual modelo (estático) de “Democracia” não nos servir, pois não garante acontinuidade da Pátria, na sua integridade material e espiritual!

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