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REFLEXÕES ( 3) .ÉVORA: REGRESSAR À IMAGEM DE CIDADE BRANCA E LIMPA

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Ainda não há três décadas Évora era muito justamente considerada como uma cidade branca. A imagem da sua alvura quase imaculada está hoje seriamente comprometida, muito devido ao desleixo e incúria das suas entidades mais representativas que dela não cuidam com o desvelo e atenção que justificou a atribuição desse qualitativo por parte de quem a visitava e que fazia dela uma marca de urbanidade, higiene e limpeza absolutamente sedutora. Caiar a casa pelo menos uma vez por ano, varrer diariamente a soleira de cada porta ou lavar semanalmente o espaço em redor da habitação eram tarefas que os eborenses cumpriam com gosto e brio.

A cidade dos nossos dias está suja. Os edifícios públicos deixaram de ser pintados, as casas particulares também o são cada vez menos até porque os vândalos que conspurcam maldosamente as paredes desencorajam qualquer um de repetir a acção e as ruas estão cada vez mais sujas pois há muito que dependem da maior ou menor intensidade das águas pluviais, acontecendo que não são alvo de qualquer operação de lavagem em profundidade  e concentram muito sarro acumulado ao longo de pelo menos quinze anos. Dirão alguns que denunciar isto será talvez uma forma de desvalorizar a cidade aos olhos de quem nos procura mas a verdade é que os outros não são cegos e quem aqui vem com alguma frequência não vai deixando de o notar.

E se as coisas parecem menos visíveis em dias cinzentos e chuvosos o mesmo já não acontece no tocante aos dias prenhes de luz e de calor que estão à porta e tornam mais nítidos os sinais da negligência, da falta de cuidado e do desmazelo disseminados por prédios e edifícios e acirram os maus odores libertados por passeios, calçadas e sarjetas que comuns em tempos medievais pouco abonam a moderna imagem de uma classificada como Património Mundial. Isto para já não falar de algumas ruas escavadas e desconjuntadas em vários pontos cujo estado a edilidade ignora apesar de informada ou olvida por carência de autoridade para impor a sua reparação aos chefes dos respectivos serviços.

O estado lastimoso de sebentice em que se encontra a fachada da Igreja de Santo Antão, situada na sala de visitas que é a Praça de Giraldo, é absolutamente desprimoroso para a cidade e reflecte o estado de enxovalho em que se encontram muitos dos edifícios do Centro Histórico. Por diversas vezes confrontei com este assunto o presidente José Ernesto de Oliveira e lhe chamei a atenção para a afronta que o mesmo constituía para o estatuto da cidade mas nada ganhei com o assunto.

Lembrei que o templo estava classificado pelo IGESPAR como Edifício de Interesse Municipal pelo que cabiam especiais responsabilidades à Câmara na sua preservação e conservação tendo-me  retorquido que também à Arquidiocese se devia atribuir idêntico dever pois a igreja está aberta ao culto e é sede de paróquia. Revelou-me ainda o presidente que havia um acordo entre a respectiva Junta de Freguesia e a Paróquia de Santo Antão para mandarem caiar o prédio, operação que andava pelos 15 mil euros ( se a memória não me atraiçoa). A Junta da Freguesia já tinha o montante reservado para a operação mas, segundo ele, o padre não havia meio de descoser com a verba.

Entretanto a parede lateral da Igreja que dá para a Rua S. João de Deus abriu fissuras correspondentes a uma ameaça de ruína no seu interior. Fizeram-se obras para por cobro à situação e quando todos pensavam que finalmente se aproveitaria o ensejo para branquear a fachada do templo, a intervenção quedou-se por ali, não sabendo eu quem arcou com a despesa. Ainda se pensou que a operação fosse integrada no programa “Acrópole XXI (a Associação Comercial aproveitou-o para esse efeito) mas nem a autarquia nem a arquidiocese nele o incluíram.

Espera-se que o futuro executivo resolva de vez esta situação, assim como dote dos indispensáveis meios financeiros os Programas “Casa Caiada” e “Municipal da Reabilitação de Fogos para concessão de subsídios aos interessados conforme consta da legislação aprovada em 1998 e publicada em “Diário” da República. Revitalizar estes programas é fundamental para desencardir muitos prédios e segurar outros que ameaçam ruir. E que diabo para que servem as verbas cobradas pelo IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) de que os habitantes e residentes no Centro Histórico de Évora são os únicos a pagar em circunstâncias idênticas?

Por outro lado é imperioso concluir um acordo com a Associação dos Bombeiros Voluntários para a cedência mensal, na época de Verão, pelo período de um ou dois dias, de um autotanque que proceda à lavagem das ruas do Centro Histórico que há quinze anos como atrás se vincou, não sabem o que isso é. A última operação dessa natureza realizou-se em 1998. De então para cá entranhou-se nelas um película de imundície resultante dos dejectos dos canídeos, das pastilhas elásticas, da escorrência de óleo e da outras massas gordurosas, que tende a liquefazer-se ou a gelatinizar-se  sem a devida remoção durante a estiagem e provoca em certos dias um cheiro desagradável e incomodativo.

A lavagem das ruas sempre fez parte da tradição da cidade mesmo quando o saneamento básico estava longe de ser o que é hoje e as artérias não podiam fugir às descargas escrementícias dos muares e das carroças que por elas transitavam. Foi assegurar o seu tratamento que a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Évora de 1926, se abalançou à compra do carro da água que agora está recolhido nos baixios da desactivada Estação da Rodoviária e constitui uma relíquia no panorama automobilístico nacional.

Dotado de uma capacidade de um tanque de 2.244 litros, tinha por função a rega das ruas, largos, praças da cidade e do Rossio nomeadamente na época da feira e dos dias de mercado. Trabalhou quase ininterruptamente até meados dos anos 60. Depois a missão foi irregularmente cumprida pelos Bombeiros., salvo erro. Há pois que recuperar essa tradição. O serviço de recolha de lixo também é péssima. Quem vier a seguir tem que tomar uma atitude drástica neste sentido. Desde o horário a que é praticada até à  displicência dos que nela participam, tarefa  desagradável sem dúvida, mas executada sem o mínimo de brio e destituída a maioria das vezes da mínima eficácia. Os detritos que caem, raramente são recolocados no carro e ficam a conspurcar a via pública dias a fio. As queixas e os protestos são gerais.

E por último há que tomar atenção ao estado de degradação das ruas, esventradas e escaqueiradas durante dias e dias e quando não por meses, largos meses, autênticos alçapões eivados de perigo para quem nelas circula, seja de carro ou a pé, repletas de buracos que esparrinham água suja para cima dos transeuntes ou das paredes quando atravessadas por automóveis em dias molhados e se transformam, ao invés, quando em tempo seco, em albergue de nojentos ninhos de ratazanas e outros bichos afins.

Porque não aproveitar os fiscais do antigo SITEE, sempre tão lépidos e pressurosos a multar os automobilistas mal estacionados, para fazer deles uma autêntica brigada de zeladores pelas mazelas da cidade, detectando e sinalizando as agressões de que a urbe padece? 

É tempo da cidade voltar ao brilho dos tempos de outrora em que a brancura, a higiene e o asseio eram a sua imagem de marca. 


José Frota


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