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O Dia dos Museus e os Museus de todos os dias…

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Joaquim Palminha Silva
    Parece que o Homem tem imperiosa necessidade de saber de onde nasceu, para onde se dirigiu ao longo do tempo e como chegou até aqui, talvez para decidir do seu caminho no próximo futuro… - Daí nasceram os lugares de conservação da memória histórico-cultural dos povos.

    Essa necessidade levou-nos, por conseguinte, a conservar os testemunhos da vida, da arte, da cultura e da tecnologia que vindos do passado chegaram até aos nossos dias e, segundo critérios científicos e pedagógicos, constituem a matéria-prima dos Museus, lugares de memória histórica da sociedade contemporânea ocidental, encarados como forma de combater o crescente desenraizamento que a ”modernidade” do consumismo, bem como a proclamada “globalização” pretendem uniformizar, sujeitando povos e nações, culturas e línguas a simples anexos pitorescos do lucro imediato…
                Será que a memória, a dignidade de um povo e sua cultura se podem rentabilizar? O que rende a sombra de um sobreiro centenário num dia quente de verão, ou um velho depois de ter perdido a sua força de trabalho?- Nem tudo se pode quantificar desta forma e, no entanto, tudo isto é tão necessário como o pão para a boca!
                Por isso, neste dia dos museus escrevemos do centro de uma urbe que não tem um Museu da Cidade de Évora nem um Museu Etnográfico (vocacionado para a memória do pão, por exemplo), mas que conserva um conjunto de unidades museológicas (algumas nem se podem chamar museus), organizadas a esmo, mantidas desordenadamente e assistidas por técnicos sem qualificações nas respectivas áreas que, portanto, fazem o que podem… e a mais não são obrigados…
                 Entre museus institucionais e de entidades privadas, veja-se a disparidade de critérios de preço de bilhetes de entrada e de horários (tipo repartição de finanças!):
                O Museu de Évora tem um horário de escritório, e a entrada/ bilhete normal é de 3 €;o Museu da Catedral encerra uma hora mais cedo que o Museu de Évora (não se sabe porquê) e apresenta a entrada a 3,50 € (critério eclesiástico?); existe um denominado “museu do relógio” instalado no edifício do INATEL, que na prática é apenas mostra de algumas colecções de relógios de várias origens, organizadas a esmo, sem pedagogia alguma, com a entrada a 2 €; a Igreja dos Lóios e o “museu” do Paço dos Duques de Cadaval acreditam que valem 3 € de entrada, todavia as colecções do dito “museu” são medíocres e evidenciam a ausência de qualquer critério descritivo, apresentando o conjunto para mostra um horário de repartição pública; a «Capela dos Ossos», na igreja de S. Francisco, pede 2 € para entrada e, com o característico horário de repartição, apresenta a exigência absurda de 1 € ao visitante que queira fotografar (não sabíamos que a luz das máquinas fotográficas “fazia mal” aos “olhos” das caveiras); a Galeria das Damas (vulgo Palácio D. Manuel/Jardim Público) pode ser visitada gratuitamente, embora nada tenha no seu interior, apenas exposições temporárias (e sem relação umas com as outras); o Museu do Artesanato e do Design, unidade absurda que sobrou depois do anterior executivo autárquico (PS) associado à entidade denominada «Turismo do Alentejo» ter destruído o que restava de um antigo museu do artesanato, apresenta-se mais como mostra de colecções de design de um privado do que efectivo museu, mas tem o descaramento de pedir 2 € de entrada; a igreja de S. Brás (Rossio) pode ser vista gratuitamente, das 8h às 11h e das 13h às 18h, bem como a igreja da Misericórdia; a igreja do Salvador, sob a tutela da Delegação local da Secretaria de Estado da Cultura, pode ser visitada gratuitamente e, às vezes, alguma exposição que habite o seu interior pode ser apreciada, embora algumas das mostras apresentadas sejam “pobres” de conteúdo descritivo, entretanto o seu horário nem oferece dúvidas, é de repartição de Estado; as Termas Romanas (edifício dos Paços do Concelho) oferecem visita gratuita, mas o horário é o dos serviços municipais; no Convento dos Remédios pode ser visitado gratuitamente um centro interpretativo do megalitismo, dentro do horário das repartições.
                A “prima-dona” destas unidades museológicas é o «Forum Eugénio de Almeida» (propriedade da Fundação do mesmo nome), espaço mais de exposições do que “museu”, e que pode ser visitado das 10h às 19h sem interrupções, apresentando a exigência de 4 € de entrada por visitante… “Gente fina é outra coisa”!
Por fim, vem a anedota: a Universidade de Évora é de visita gratuita… Excepto de 30 de Março a 6 de Abril, período em que o visitante tem de pagar 3 € para entrar… Porquê? Os folhetos não explicam… Eu também não pedi explicações, pois nada justifica um disparate destes!
                No dia mundial dos museus, numa urbe a que já Fialho de Almeida (finais do século XIX) chamava “cidade museu”, os museus ou aparentados parecem repartições e os funcionários, na sonolência dos dias, tristes anfitriões… Mas apesar de tudo Évora merece que a visitem!


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