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Joaquim Palminha Silva |
Desventuroso domingo (22 de Março de 2015), com estouvadas nuvens negras, logo pela manhã, a despejarem bátegas de água sobre uma Primavera envergonhada, com a sua “roupa” florida esfarrapada… Mas nada pode pesar tanto neste vale de lágrimas como a melancólica e enfadonha certeza de que vivo no País da dívida externa galopante, acrescida de infindáveis e individuais léguas de impostos directos e indirectos…
Assim, manhã cedo, através de velhas ruas e travessas pouco frequentadas, chego à Praça de Sertório, ao largo onde tem sede a “fabriqueta” da argumentação regionalista; isto é, a Câmara Municipal de Évora. Entretanto, levanto o olhar para a fachada do imóvel. Com efeito, a minha laboriosa conclusão inicial é confirmada. Quatro bandeiras sacodem-se ao vento: - A do Município, a bandeira nacional e o pano estrelado, de conveniência simbólica, da União Europeia, além de outra representando, avulsamente, não sei o quê.
Portanto, posso estabelecer a certeza: - Estou em Portugal, país paralelo à lombada do Oceano Atlântico… Nação pusilânime face à coligação “imperial” do norte europeu, mas com governo desapiedado, fanfarrão e implacável com seu próprio indigenato…
No meio da Praça de Sertório, movido não sei porque pressentimento, volto o olhar para o edifício renascença onde está sediado o Serviço de Finanças de Évora. Sobre o gracioso alpendre, lá estão, erguidos ao alto, os três mastros sabidos, todavia nenhum deles ostenta a respectiva bandeira! – Desembaraçados do pano tradicional, e apesar da seriedade que a sua função reclama, os esguios mastros mais parecem três palitos gigantes, como se fossem publicidade de alguma marca de “esgravata-dentes” para gastrónomos aflitos!
Ocorrem-me vários argumentos críticos. No entanto, espero um pouco… Recolho informações: - Há vários fins-de-semana que a bandeira nacional não se “deixa ver” hasteada nos mastros do Serviço de Finanças de Évora!
Negligência da direcção do Serviço, esquecimento do funcionário indigitado para a tarefa, generalizada indiferença, ausência de verba para aquisição de bandeiras?
Nada disto… Esqueçamos os ornatos e floreados de linguagem. Na verdade, amigo leitor, estou em crer que a ausência da bandeira nacional no respectivo mastro, fica a dever-se, talvez, a escrupulosa abstenção dos funcionários do Serviço de Finanças que, num gesto de desvelo e respeito pelos contribuintes, através da ausência da bandeira nacional, nos querem poupar a indignação de vermos o símbolo da Pátriahasteado onde, anti-patrioticamente e ao serviço de uma coligação de prestamistas estrangeiros, dia após dia nos são extorquidos os euros que temos para sobreviver, a pretexto de pagamentos de dívidas que não contraímos…
A bandeira nacional não é hasteada no mastro do Serviço de Finanças de Évora, domingo após domingo, para não insultar a inteligência do cidadão contribuinte, não lhe provocar a comoção, o sobressalto, pois é sabido que essa repartição de cobranças cumpre ordens de Lisboa que, por sua vez, cumpre ordens de Bruxelas!
Há muita gente que não percebe isto: - A direcção e funcionários deste Serviço têm uma grande consideração pelos contribuintes, por isso nos poupam o sacrilégio da bandeira das quinas aos domingos, sobre um balcão cor de rato onde nos subtraem dinheiro!
Bem hajam, pois, pelo nobre e caritativo gesto!