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Channel: A Cinco Tons
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A oportunidade

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Os atentados terroristas ocorridos na última semana em paris, trouxeram à tona o principal problema da Europa democrática. É sem dúvida alguma a segurança dos seus cidadãos. O grande pensador e ensaísta francês Vítor Hugo, já o havia afirmado no século XIX, que, não há liberdade, sem a segurança dos cidadãos.
Na verdade, não há justificação alguma para os ataques terroristas perpetrados pelos irmãos Kouachi de origem magrebina ao jornal francês Charlie Hebdo e o ataque levado a cabo por Amedy Coulibaly a um supermercado judeu. No entanto, as instituições democráticas, europeias e mundiais terão de encontrar soluções para este gravíssimo problema que é o terrorismo. Os regimes democráticos não sobrevivem com restrições permanentes dos direitos e das liberdades.
Com efeito, temo que as elites europeias sejam assoladas de que a resolução do combate ao terrorismo passe pela adopção de medidas securitárias. Ou seja, com a adoção de restrições pouco sensatas ao nível da liberdade de circulação e da reserva da vida privada dos cidadãos. Esta tentação e deriva levar-nos-ia à criação de Estados, perigosamente, fiscalizadores e controladores da vida de cada um dos cidadãos individualmente, considerados. Não morreríamos da doença, todavia, sufocar-nos-iam pela cura e suas consequências. Acho, portanto, que ninguém quer viver sob um regime análogo ao da Coreia do norte, estou certo disso.
Ora, não pretendo avorar-me em especialista na matéria dos assuntos de segurança, porque efectivamente não o sou. Porém, as soluções para o terrorismo, para além de outras que não estou em condições de as discutir por meu desconhecimento, terão de passar pela efectiva reintegração dos cidadãos que residem nos diferentes Estados europeus que tenham outros credos e outras culturas. E, a reintegração e/ou inserção desses cidadãos, passa por criarmos condições de dignidade efectiva e não de uma dignidade aparente. Só a título de exemplo, a guetização é por isso um mau paradigma.
Em síntese, as elites europeias têm uma grande e única oportunidade para inverterem o caminho até então percorrido. Pois, infelizmente, este ataque terrorista foi dirigido a pessoas e a grupos em concreto. Depois disto, só lhes restam os representantes do povo.
Assim, no intuito de evitarmos o recrudescimento das derivas terroristas que nos assolam todos os dias, porventura devam ser criadas as condições para que seja reinventada uma Europa onde todos os cidadãos, independentemente, do género, credo, raça ou condição social possam efectivar as suas legítimas expectativa, fazendo, no menos, jus às premissas da revolução de 1789. Isto significa apelar à civilização e condenar a barbárie.

José Policarpo (crónica na Rádio Diana)

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