Joaquim Palminha da Silva |
Já (saiba-se) é a voz dos desesperados que ninguém quer ouvir (nem Estado, nem partidos, nem sindicatos). Jáé a palavra de ordem dos que querem o futuro aqui e agora, mas têm de suportar todos os interlúdios, porque a sua urgência é inconveniente, desassossegada. Já, é palavra que cheira a esturro e tem sabor de sangue, suor e lágrimas!
Com palavras que contrariam Já, que o travam ou imobilizam, com organismos sociais escolhidos para almofadarem de chumbo o seu andamento, tornando pesado, lento, alcançam este “milagre”: - Conseguem que o Povo espere, transformam as lágrimas em esperança e um desgraçado num eremita… da paciência!
Que valor, que conteúdo tem Já, o que é então Já, palavra extraordinária que consegue dar movimento aos pasmados e fazer o Povo afastar, do caminho da revolução, a poeira das impossibilidades, dos medos, das manipulações? – O Jáé o momento de tempo donde brota a vida, é um choro de criança nascendo, é um instante movimentando-se em várias direcções que conduzem à criação e ao amor!
O Jáé efectivamente subversivo, libertário, está para além da moral e não pode ser canalizado numa só direcção!
No actual território português Já apareceu no fim da Idade Média, embandeirando o Povo. Depois, espalhou-se pelas revoluções do século XIX, tomou-se de amores pela Maria da Fonte, foi Patuleia e, em 1910, o Já teria sido republicano se a República dos “doutores” não houvesse espingardeado a matar o Povo do Trabalho!
Aqui e ali Jáapareceu em momentos breves e explodiu único, excepcional, em Abril de 1974!
Hoje não há mais Já, empalhadas as letras da palavra. Hoje existem o curto, médio e longo prazo a impossibilitarem que se faça Já!
Hoje não há qualquer Jáem actividade, trespassado (de lado a lado) pelas baionetas do fatalismo, alvejado pela sonolência provocada pelos cuidados continuados dos paliativos políticos, ministrados pelos partidos, da direita à esquerda!
Tudo aquilo que o Jácomunicava às multidões amarguradas, alma arrancada a esse assombroso fluido que é o sofrimento humano, ficou narcotizado com as maquinações filosóficas modernas e as habilidades mecânicas do lucro e do consumo… De rosto envelhecido, com profundos sulcos nas faces, provocados por lágrimas continuadamente amargas, a viver baixinho entre si, como quem espera que o vão levantar da casa de penhores, Jáé uma “antiguidade” revolucionária que se estuda nas Universidades, exibindo-se a palavra e o conteúdo nos cursos de História e Sociologia, definitivamente mumificada pelos académicos e aborrecida de aturar pelos estudantes.
Se ao menos o Povo lhe valesse… Já!