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Ser ou não ser Charlie, eis a questão

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A semana que passou foi fatídica, levando grande parte da população a expressar a sua opinião sobre o massacre levado a cabo sobre os jornalistas e cartoonistas do “Charlie Hebdo”. Muitas foram as opiniões, muito se afirmaram e afirmam “Charlie”.
Ser Charlie é acreditar na liberdade da imprensa, pilar fundamental de qualquer democracia, mas também defender que o humor e a sátira são uma forma superior de inteligência.
Compreendem todos o humor de Charlie Hebdo? Julgo que não. Muita gente se arrepiou a ver a sua forma de retratar a realidade? Com certeza que sim.
Saber rir da nossa sociedade, das diferentes culturas e credos, das diferentes formas de estar e das diferentes visões políticas, é uma enorme virtude. Saber rir de nós próprios e do que nos rodeia é o primeiro passo para nos desenvolvermos e construirmos uma sociedade mais justa.
Esta liberdade de rir, esta liberdade de poder publicar, não pode ser abalada pelo medo. É contra o medo que me afirmo “Charlie”. Não, não tenho medo! Não sei que sentido cada um deu à frase “Je suis Charlie”. Para mim, é uma forma de gritar ao mundo que não tenho medo. Não tenho medo dos terroristas, sejam eles quem forem, com ou sem máscara, com ou sem armas de fogo. Não tenho medo de “Jihadistas”, como não tenho medo de fascistas e ultra-liberais.
Não temo, e confronto todas e todos os que se afirmam “Charlie”, que ontem marcharam pela República e pela Liberdade, mas que no dia-a-dia enfraquecem todos os pilares da democracia. Senhores e senhoras que querem matar (sem armas de fogo, mas com outras, quiçá mais perigosas) a liberdade, a fraternidade e a igualdade.
Marchou Assunção Esteves que não permitiu que os Capitães de Abril falassem na Casa da Democracia Portuguesa. Marchou Passos Coelho que lidera uma política de austeridade que empobrece e mata, e um partido que atenta contra as minorias étnicas e sexuais. Marcharam Hollande e Sarkozy, rostos da austeridade em França. E marchou Merkel, a chanceler implacável que quer destruir a Europa do Sul e a Europa Social. Mas marcharam, também, muitas e muitos jornalistas que diariamente cedem ao medo e à chantagem.
Eu sou Charlie, mas estou, sobretudo, de pé, contra todas e todos aqueles que ameaçam diariamente a Europa da Solidariedade, da Justiça e da Igualdade. Esta semana fomos Charlie, quantos seremos amanhã?
Até para a semana!

Bruno Martins (crónica na Rádio Diana)

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