Há uma semana realizou-se uma audição dos principais intervenientes no processo de mineração na serra de Monfurado por iniciativa da Assembleia Municipal, uma vez que a empresa pediu a Declaração de Interesse Municipal pelo projecto. O acincotons já publicou o relato da sessão produzido pelos serviços de informção da CME. Publica agora três opiniões sobre este processo dadas a conhecer nas redes sociais.
Uma é de Maria Helena Figueiredo, candidata em Outubro passado pelo BE à Câmara Municipal de Évora e que esteve presente na reunião:
"A posição da CDU é mais que equívoca.
O que está em causa é a defesa do interesse das populações face ao interesse privado da empresa. E a afirmação do Sr Presidente da Câmara quanto a quem paga danos e a contrapartidas não foi tão veemente como a que se quer fazer crer.
Onde estavam os deputados municipais eleitos pela CDU? Porque faltaram tantos à sessão.
O Presidente da Junta de União de freguesias de Guadalupe e NSra da Tourega não apareceu, sendo uma das freguesias que vai ser afectada.
Qual o futuro dos Almendres?
É bonito celebrar lá os solstícios, não é? (aqui)
O segundo texto é assinado por Sandra Gonçalves de Gaia, psicóloga, residente em Évora e publicado no facebook..
Diziam os antigos que o importante são as consequências das nossas acções daqui a mil anos e naqueles que vão viver daqui a mil anos. Monfurado sobreviveu aos caçadores-recolectores e aos construtores de estruturas megalíticas. Apesar das suas riquezas, sobreviveu suficientemente bem a romanos e árabes para ainda cá estar hoje. Será que que as nossas acções vão fazer com que nos sobreviva, ou não? Temos de ter a noção de que, quando uma empresa de mineração de ouro nos oferece trabalho (do grosso, mesmo, mineração – que ainda por cima costuma ter impactos profundos na saúde dos mineiros) nos está a atirar côdeas. Há trabalho durante umas décadas e no fim delas nem trabalho nem ambiente nem condições para o desenvolvimento da região porque os ses valores se foram. Se estamos dispostos a licenciar projectos que implicam tais áreas e abate de árvores com certeza seremos capazes de atrair outro tipo de investimento (turismo, ambiente, etc) que geral igualmente emprego mas não põe em causa a poluição dos aquíferos, não lida com metais pesados, não desvaloriza o local, não prejudica a saúde e não nos deixa, no fim, com um enorme vazio na alma e na paisagem. A vontade da população vai ser respeitada? Façam saber à população que licenciaram projectos em actividades construtivas e acrescentadoras de valor em vez de em destrutivas e vamos ver o que as populações, que em certos lugares têm amor à terra e alguma da sabedoria antiga, prefere. Como bónus, que tal passar desde já uma mensagem às empresas de fracking e afins?
O terceiro texto é assinado por Pedro Duarte, morador na N. Sra da Boa Fé, no blogue "Árvores de Portugal" (19 de Junho de 2013)
Um projecto mineiro que poderá arrancar brevemente na aldeia de Nossa Senhora da Boa Fé ameaça o equilíbrio ambiental de uma das mais belas e paisagisticamente intactas serras alentejanas, Monfurado, situada a poucos quilómetros de Évora. Os impactes previstos são de múltipla ordem, afectando gravemente, para lá da saúde pública, as águas, a flora, a fauna e o património. Apesar de boa parte da população local estar a oferecer, de forma muito organizada e fundamentada, resistência ao projecto – o que, não sendo inédito em Portugal, é sintomático da gravidade dos impactes –, o poder central e local deu mostras públicas de estar decidido a dar-lhe luz verde. Curiosamente, até o presidente da Junta de Freguesia da Boa Fé, do Partido Comunista, se aliou aos promotores de um projecto que materializa os interesses do capitalismo mais especulativo, selvagem e irresponsável para com o meio ambiente e a saúde e o bem-estar das populações.
A enorme mina prevista para a aldeia da Boa Fé representaria apenas o início de um colossal projecto de exploração de ouro, ao nível dos maiores do mundo, que iria perpetuar a destruição da Serra de Monfurado durante décadas. O principal destino a ser dado ao minério, como confessou a uma rádio local o director da empresa promotora do projecto, é a criação de barras para alimentar as reservas de ouro de alguns países. Outra parte teria como destino a indústria internacional da joalharia. É para isto que paisagens muito valiosas do ponto de vista ambiental e cultural serão arrasadas e profundamente contaminadas.
O abate de árvores (sobreiros e azinheiras) previsto apenas para esta primeira fase abrange uma área de cerca de 100 hectares. A desflorestação massiva de 6 952 sobreiros e azinheiras adultos iria ocorrer no seio de um sistema agro-florestal singular, porque produzido e mantido ao longo de centenas de gerações pelos agricultores. Este sistema, perfeitamente adaptado às condições edafo-climáticas do Sul do País e com grande aproveitamento agro-silvopastoril, é conhecido por ‘montado’ e está cada vez mais ameaçado. Constitui um dos biótopos portugueses mais relevantes em termos de conservação da natureza e uma prova (infelizmente cada vez mais rara) de que as práticas agrícolas podem conviver com a manutenção da flora e fauna autóctones.
Quem desejar obter mais informação sobre este projecto ou contribuir para a resistência ao mesmo pode visitar a página:http://projectomineirodaboafe.wordpress.com/ (aqui)