1.A menos de quatro meses das eleições os episódios do folhetim autárquico vão-se desenrolando a um ritmo pouco palpitante deixando antever uma campanha patética na qual candidatos e promotores das respectivas candidaturas dificilmente conseguirão mobilizar a atenção quanto mais a adesão dos eborenses, cônscios estes da importância de que o acto terá para o futuro da cidade mas também muito pouco motivados para votar em pessoas em que se de modo algum se revêm. E com isto- é preciso que se sublinhe- não está em causa a idoneidade pessoal dos candidatos, a sua postura ética ou cívica, mas tão só a avaliação do percurso feito até hoje em prol da cidade, da solidez do conhecimento que dela exprimem nas suas mais diversas vertentes, das aptidões demonstradas pelo respeito dos princípios da cidadania e da sua capacidade para gerir o concelho num contexto que se sabe ser de grande dificuldade.
2.Observe-se o caso paradigmático do candidato do PSD, Paulo Jaleco,cirurgião credenciado, de grande simpatia pessoal, mas cujo grosso currículo só o pode recomendar à liderança de uma federação desportiva e não mais do que isso. Com efeito, deste ponto de vista, a sua folha de serviços é invejável: foi praticante federado de futebol, andebol e ragby, presidente e vice-presidente da Direcção do Juventude Sport Clube, fundador e 1º. presidente do Club de Ragby de Évora, fundador do Ragby Clube de Juromenha, presidente da Assembleia Geral do Évora Andebol Clube e médico por diversas vezes da Volta a Portugal em Bicicleta
De resto Paulo Jaleco é médico dos Bombeiros Voluntários de Évora e vice-presidente da Direcção dos do Alandroal. Como autarca foi presidente da Assembleia da Freguesia de Juromenha e da Assembleia Municipal de Alandroal. A isto junta o toque marialva de ter sido forcado. Um típico produto da direita eborense a quem não se conhecem ideias ou tomadas de posições sobre a cidade, o seu desenvolvimento e as suas necessidades. Bem pode pois o conspícuo causídico Carlos Almeida clamar na sua crónica semanal no “Diário do Sul” que este é o verdadeiro candidato independente que vai resgatar Évora porque ninguém o toma a sério.
Paulo Jaleco é o recurso encontrado para ir ao sacrifício de uma candidatura sustentada pela actual maioria partidária para que esta não seja acusada de derrota por falta de comparência. Estou mesmo em crer que só com muita sorte o PSD voltará a ter um lugar na vereação regressando a uma posição que António Dieb conquistara nos dois últimos elencos municipais. Quanto ao apoio do CDS é o equivalente à sua consabida expressão, cada vez mais residual no concelho.
3.Tão patética como esta ou pior, é a situação em que se encontra o PS. A nível local a sua descredibilização é completa, agravada pelo péssimo desempenho verificado no mandato que ainda não terminou. José Ernesto Oliveira saiu antes de tempo «por razões de saúde». Mas depois veio a precisar que a verdadeira razão para a sua retirada era a de « recusar ser actor numa peça em que já não entrava». Sucedeu-lhe o apagado Manuel Melgão que passou durante oito anos sem que lhe fosse audível uma palavra sobre o que quer que fosse. Pensava-se que este se limitaria a controlar discretamente os estragos e completar o mandato dando assim margem a que os socialistas encontrassem outra figura que os viesse redimir da má imagem de gestão que se radicou e consolidou no seio do eleitorado.
Tal não foi possível porque das suas figuras de topo nenhuma quis arriscar-se a ir para os cornos do touro, como soe dizer-se em linguagem tauromáquico. Com o silêncio do Largo do Rato ou até com a sua oposição (vá lá saber-se !) os jovens “turcos” da concelhia decidiram avançar com o nome de Melgão, concedendo-lhe um apoio que este considerou suficiente para dar o passo em frente. Ciente, todavia, de que nunca tinha desfrutado de visibilidade junto da população, o ex - subalterno resolveu contratar um assessor para lhe tratar da cosmética pública e publicitar os seus insuspeitos atributos, patentes e exibidos na passagem por uma empresa municipal de habitação, na descolorida ocupação do lugar de delegado do Instituto Português da Juventude, ambas antecedidas da prática de atletismo, de dirigente do Grupo Desportivo da Giesteira e da presença 19 anos consecutivos como membro da direcção da Associação de Futebol de Évora. O mais alarmante é que Lisboa tarda em sancionar o seu voluntarismo.
E o que se tem visto por estes dias raia o caricato. Uma pretensa entrevista não assinada e publicada no “Diário do Sul” acrescida de um perfil encomiástico e adornada por material fotográfico seleccionado mas também não creditado, suscita perplexidades várias a começar pelo deserto de ideias. «Temos a ambição de fazer melhor» avança o candidato que não consegue vencer a aridez de pensamento de que sempre se suspeitou. Propugna ele uma espécie de evolução na continuidade num ensaio de descolagem tímida do seu antecessor que no entanto o quer amarrado à sua herança ao proclamar que Melgão não irá afoitar-se a «uma ruptura com o passado».
No geral os doze anos de gestão de José Ernesto de Oliveira não foram tão apocalípticos quanto a oposição os pinta. Teve alguns aspectos bem positivos culminados porém com uma decisão desastrada e desastrosa que o tramou a ele e à cidade: o da adesão do município à empresa Águas do Alentejo traduzida numa dívida de 36 milhões de euros- no fundo o pecado capital que contaminou os últimos dois mandatos. E não há volta a dar-lhe, procurando desculpas com o ex-ministro Mário Lino, que segundo explicações suas recentes, o terá empurrado para aquela resolução suicida e catastrófica. O facto é que ela poderá eventualmente acarretar - para sua própria mortificação- o regresso dos comunistas ao poder municipal.
4. O PCP jogará com a sua responsabilidade e a do PS no cometimento desse erro crasso para o qual os comunistas sempre avisaram e denunciaram prevendo as funestas consequências que daí adviriam. A situação financeira seria bem outra se tal passo em falso não tivesse sido dado- argumentarão sempre e não deixará de lhes assistir alguma razão. Este é um trunfo muito forte a jogar por parte de uma candidatura personalizada em Carlos Pinto de Sá, que não é muito atraente mas que comporta reais possibilidades de sair triunfante.
De facto, o candidato da Rua de Avis em entrevista concedida à Rádio Diana denotou algumas vulnerabilidades no seu discurso e nas soluções a adoptar no sentido de colmatar alguns dos problemas e das lacunas do concelho, que, aliás, Luís Bernardes, no “a cinco tons”, desnudou com muita lucidez e assinalável sentido crítico. Ou seja, tornou-se notório que Pinto de Sá pretende implantar em Évora as consignas usadas em Montemor-o-Novo considerando-as suficientemente testadas e adequadas para aplicação noutro concelho que se lhe não se compara em dimensão, população e estruturas sócio-económicas.
Dificilmente ele poderá crer que os eborenses irão aceitar uma estratégia de recuperação e desenvolvimento assente em bases idênticas às de Montemor-o-Novo. Por outro lado o candidato transmitiu a sensação de notório embaraço quanto ao modo como pensa atacar o problema da regeneração urbana mas é preciso não esquecer que o inquiridor também não deu tréguas nem conduziu a conversa para realçar as suas melhores características. Pinto de Sá deixou transparecer contudo capacidade e flexibilidade para contornar esses aspectos e procurar a correcção dos mesmos caso não se deixe enredar no estalinismo fossilizado e na sede de retaliação e revanchismo que ainda persiste em muitos dos antigos camaradas, com particular realce para o inenarrável Raimundo Cabral. Apesar de tudo isto o PCP pode não chegar à vitória se a direita, por imperativo da carência de potencialidades do seu candidato, decidir votar no PS para impedir o retorno da hegemonia comunista.
5. Falta lançar o olhar sobre a candidatura de Maria Helena Figueiredo por banda do Bloco de Esquerda que parece bem intencionada, com algumas propostas vertidas naquilo que apelidou de «compromisso» e com a vantagem de optar por uma postura mais séria que a da exageradamente teatral Amália Espiridião. Creio que para conseguir seduzir uma franja relativamente significativa dos descontentes com a gestão concelhia, Maria Helena e os seus mais próximos colaboradores terão de procurar convencer uma população socialmente conservadora e muito crítica em relação à quebra de certos padrões de comportamento, de que localmente não representam o partido «dos que só se preocupam com os direitos e os problemas dos homossexuais e dos drogados». Quer queiram, quer não, este é o rótulo que lhes é colado à partida e ouvido nos cafés, nos supermercados, nas paragens dos autocarros, quando se fala no B.E.. Um terrível handicap que , convenhamos, os adversários subrepticiamente não deixarão de procurar explorar.
6. Entretanto o PCP comiciou a noite passada na presença de Jerónimo de Sousa e o BE prepara-se para apresentar a sua candidatura no fim-de-semana contando com o sorumbático João Semedo. Tenho as minhas dúvidas que estas participações dos dirigentes nacionais se revistam de alguma mais valia para os candidatos dado que não passam de avalizar profissões de fé de apaniguados já convertidos. Creio que neste aspecto a grande curiosidade residirá em saber se Passos Coelho virá ao jantar de apoio a Paulo Jaleco. E se o fizer, virá acompanhado de um forte dispositivo de segurança com reforço policial pedido a Espanha (Jefatura de Badajoz) como o fez há dias em Elvas?
E já agora, será nos próximos dias que Manuel Melgão verá confirmada oficialmente a sua candidatura? Ou no Largo do Rato prepara-se alguma surpresa? Do ridículo desta moderna versão política do « nem o pai morre, nem a gente almoça» já os socialistas locais não se livram.
José Frota (via mail)