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A morte

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Esta crónica poderia ser sobre saídas limpas, jogos sujos, mentiras anunciadas, falsas oposições e outras pequenas coisas que não nos surpreenderam nos tempos mais próximos. é um aumento, ou melhor, é um aumento… mas residual.

Poderia ser sobre a linha que o irrevogável ministro jurou não passar, embora agora aceite o aumento da TSU, a tal linha inultrapassável.
Infelizmente, o brutal homicídio de uma advogada no exercício da sua profissão e na defesa dos interesses de uma cliente, obrigou-me a desviar a minha reflexão para algo mais inevitável como o fim da vida.
Morrer pelo simples facto de se exercer uma profissão onde se representam interesses alheios é algo que parece tão improvável como estúpido e sem sentido.
Matar alguém, apenas porque o seu exercício profissional a coloca do outro lado dos interesses em disputa, é algo que não cabe no exercício mental de quem julga viver num tempo diferente do olho por olho dente por dente.
O populismo galopante, que pretende qualificar grupos profissionais através de anátemas e se constrói através de processos comunicacionais que apelam ao mais básico que existe em nós, irá tentar justificar o injustificável e, por outro lado, apelará à justiça exemplar ou á vingança de Estado.
São tempos estranhos em que o valor da vida humana desce de tal forma de cotação que faz com que cenários destes aconteçam.
Quem faz do raciocínio básico método de análise, não compreenderá que quando o homicida for presente a tribunal esteja presente um advogado com a tarefa de garantir que o arguido tenha um julgamento justo e que os seus direitos processuais sejam integralmente respeitados.
Aquilo que, para quem vê a vida a preto e branco, parece ser uma espécie de atitude amoral, representar um homicida de uma colega de profissão, é no essencial uma homenagem a Natália de Sousa e à forma como exerceu a advocacia.
Será uma demonstração de superioridade da civilização sobre a barbárie e que exigirá muito mais do que competência ou brio profissional. Exigirá a convicção de que, se assim não for, nada mais valerá a pena e ficaremos todos ao nível da atitude homicida que agora repudiamos.
Esta coisa de nos entrar pelos olhos dentro que afinal não somos eternos, leva-me a equacionar o sentido das pequenas coisas que fazemos no dia-a-dia e que parecem ter uma importância transcendente.
Até para a semana


Eduardo Luciano (crónica na rádio diana)

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