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Alerta vermelho para as escolas nas freguesias rurais de Évora

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Sete. Não, não é do número mágico que vos venho falar hoje, mas não deixa de ser simbólico. Este é o número de escolas primárias (chamemos-lhe assim porque foi assim que nasceram lá no passado onde estão ainda a servir o futuro), escolas da esmagadora maioria das oito reagrupadas freguesias rurais do concelho (antes 11), e de que se anuncia o encerramento.
Esta é uma notícia que a ser verdade, já que nos vamos habituando aos truques deste governo dos grandes disparates que depois são só disparates, é uma notícia que não se pode aceitar de cravo ao peito e braços cruzados. Este é o momento em que os que recusam liminar e demagogicamente as inevitabilidades se têm de lançar ao trabalho, aquilo que todos os políticos sérios defendem como valor primeiro, mas de que alguns se apropriam como slogan eleitoralista. É que não basta pôr faixas negras no gradeamento de escolas a esvaziarem-se, nem gritar contra outros poderes pelo simples exercício de contestação, tantas vezes demonstração de um poder por si próprio e não pelo resultado que se deseja obter. É que como dizia um político francês desaparecido há 100 anos, ativo republicano e enorme referência na história da defesa dos socialmente mais frágeis, Jean Jaurès, «não se ensina aquilo que se quer; ensina-se e só se pode ensinar aquilo que se é.» E lutar contra o encerramento de escolas em aldeias dispersas e distantes do centro urbano é todo um trabalho que percorri durante quatro anos e que, mais do que a minha vontade feita de conceitos que estudei, me transformou pessoal e profundamente na minha vida política, onde se exerce a “arte do possível” (esta uma expressão de Bismarck, outro estadista, prussiano, de enorme importância na diplomacia europeia do século XIX). Oiçam-me, pois, com a paciência que vos peço, por mais alguns minutos.
Muitos estudos nos dizem que as crianças têm de socializar para crescerem melhor. Outros há que defendem, nos primeiros anos de aprendizagem do elementar – ler, escrever e contar –, que o ambiente familiar e mais restrito também lhe é benéfico. No limite, e tratando-se de ciências humanas e sociais as que estudam estas matérias, caberá avaliar caso a caso os modelos de aplicação para um coletivo que se propõem e decidir. Há depois, na gestão do bem público, outros valores a ponderar, sendo que em educação, e em política de uma forma geral, é em investimento e não em despesa que nos devemos concentrar. Em educação não há luxos e os negócios não são, nem deviam ser, para ela chamados. Foi assim que, em 2010, aquando do primeiro e único encerramento de escolas; estavam propostas mais mas só uma fechou e não foi por falta de crianças na aldeia mas porque os pais não as inscreveram, com toda a legitimidade, porque as queriam perto do local de trabalho ou de outros familiares que lhes dessem apoio, argumento tão válido para aquelas famílias que as queriam manter na escola da aldeia. E foi a única escola que fechou, já a atual legislação estava em vigor, no mandato em que fui vereadora com responsabilidades na educação. 
Um trabalho que prosseguiu com o trabalho enorme de um conselho municipal de educação, voluntário e cheio de vontade, que se desdobrou não apenas em discussões ideológicas, já que ele era bem plural também nesse campo, mas em deslocações às comunidades educativas em risco pelo legislado, onde os presidentes de Junta, respetivos executivos e membros de assembleia são, ao lado dos pais, encarregados de educação, pessoal não docente e docentes, uma voz importante a escutar com muita atenção. Um trabalho que modificou aqueles que, como eu própria, apenas conheciam um lado da questão, o tal da socialização das crianças, embora soubesse já que aquelas escolas eram, e ainda devem ser, os lugares mais acolhedores, alguns mesmo quando comparados com novos edifícios urbanos e modernos igualmente atrativos, para neles se poder aprender a crescer. O investimento municipal nas escolas rurais, por parte da Câmara e das Juntas de Freguesia, era uma evidência inegável como contributo para o bom ambiente de ensino-aprendizagem. 
Os problemas que o encerramento da única escola levanta aos habitantes de uma aldeia, onde se já há poucas crianças quanto menos infraestruturas que as apoiem existirem menos haverá, são bem maiores do que os que imaginamos quando lemos trabalhos científicos com todo o rigor que efetivamente têm. Por isso, também, o trabalho de levantamento de razões e confirmação de posições tem de ser consistente, metódico e constante, para que o debate político com os restantes poderes, por ventura decisivos na matéria mas que devem seguir as regras da democracia aplicáveis quer a nível nacional quer local, não se fique pelo esgrimir de argumentos técnicos encontrados de régua e esquadro à distância ou, no outro lado, com ideologias por vezes corporativas outras vezes tão vagas que se tornam igualmente distantes do quotidiano e da vida das pessoas que em nós políticos depositam a confiança num compromisso de as representar. 
E é por isso que eu repito e reafirmo que fechar escolas não é uma notícia que se pode aceitar de cravo ao peito e braços cruzados. 
Até para a semana.

Cláudia Sousa Pereira (crónica na rádio diana)

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