Ontem o Bloco de Esquerda fez questão de fazer um pedido de informação sobre o estudo que requereu ao executivo municipal há 4 meses sobre as possíveis vantagens da exploração mineira na zona da Boa Fé, uma vez que o actual executivo nunca demonstrou uma oposição firme ao projecto até ao momento.
A resposta a este pedido de informação foi vaga. Foi dito pelo Sr. Presidente da Câmara que foi requerido ao Governo (???!!!) ajuda para a elaboração do referido estudo. Foi, portanto, pedido ao lobo que ajudasse a proteger o cordeiro... Nenhum parecer técnico foi pedido, nenhum estudo foi consultado, nenhum especialista foi ouvido, nem tão pouco as populações locais. Era exactamente isso que se esperava que o executivo fizesse para dar a melhor resposta à deliberação da Assembleia Municipal.
Felizmente, e após meses e meses de uma luta isolada do Bloco de Esquerda e de vários cidadãos e cidadãs independentes, parece que a preocupação começou a ser consensual. Todos os partidos com assento na AM querem, agora, saber mais sobre o projecto, demonstrando-se interessados em avaliar os reais impactos desta exploração a céu aberto.
Gostaria de realçar o papel activo do Sr. Presidente da União de Freguesias de São Sebastião da Giesteira e Nossa Senhora da Boa Fé na oposição a este projecto calamitoso e que, ontem, apresentou um pedido de informação semelhante ao do Bloco de Esquerda.
Foi, então, agendada para o início de Junho uma Assembleia Municipal Extraordinária para discutir a Exploração Mineira na zona da Boa Fé.
Esperamos que sejam contactadas todas as entidades envolvidas, especialistas e população para estarem presentes nesta AM Extraordinária, para que todos os eleitos possam ter toda a informação na sua posse e não aleguem o desconhecimento e, consequente, falta de interesse que revelaram até ao momento.
É importante relembrar que se trata de uma exploração mineira a céu aberto na Serra de Monfurado, com uma área comprometida equivalente à do Centro Histórico, envolvendo duas crateras com 120m e 90m, equivalentes a 40 e 30 caves, respectivamente. Prevê-se uma mobilização de quase 11 milhões de toneladas de rocha, contendo uma tonelada de arsénio, libertado no empoeiramento (provocando chuvas ácidas) e na lixiviação (infiltrando-se no solo e nos aquíferos).
Os números são de facto assustadores: 11 mil toneladas de arsénio na bacia de rejeitados, a que se somam 252,5 toneladas de amil xantato (químico inflamável e irritante para a pele e olhos e incluído na lista de produtos perigosos) e 1080 toneladas de sulfato de cobre puro.
E não tenhamos ilusões. Mesmo que a empresa de exploração garanta que recuperará toda a zona após a exploração, essa é, provavelmente, uma promessa que nunca será cumprida. De facto, a norma das explorações mineiras é o abandono após a fase mais produtiva para as empresas, de que resultam 175 minas abandonadas em Portugal e mais de 21 mil num dos paraísos mineiros: o Canadá.
Sempre defendemos que o futuro não se vende a preço de saldo. Esperamos que, agora, esta ideia seja consensual.
Bruno Martins(aqui)