clique para ler
Ontem assisti à sessão de debate com Aurora Rodrigues e Diana Andringa sobre o ser-se jovem em Abril de 1974, no Palácio D. Manuel. Presentes muitos jovens e menos jovens, mas particularmente atentos. Foram dois testemunhos relevantes de duas jovens de então empenhadas na luta contra o fascismo. As duas estiveram presas antes do 25 de Abril. Aurora Rodrigues foi barbaramente torturada e agredida. Jovem alentejana nascida em Mértola, mas desde muito nova a viver em Castro Verde, frequentava o curso de direito em Lisboa, quando foi presa e esteve 16 dias em tortura de sono. Hoje magistrada do magistério público em Évora, contou as memórias daquele tempo tenebroso e referiu-se a um PIDE em particular, Óscar Cardoso, que posteriormente viveu na Azaruja, perto de Évora, que aparecia depois das sessões de tortura e das agressões, para falar com ela, tratando-a por você, bem vestido e perfumado, fazendo o papel do "Pide intelectual". Tratava-se, no fundo, dos mesmos instrumentos ao serviço do sistema prisional: a humanização era apenas um expediente para fazer quebrar os presos e extrair-lhes informações.
Aurora Rodrigues disse que esse mesmo PIDE (e outro) tinha sido "agraciado" pelos "altos e assinalados serviços à Pátria".
O "Diário da República" (acima) onde essa vergonha foi exarada tem a data de 15 de Abril de 1992 e o diploma em causa foi assinado por Cavaco Silva (primeiro-ministro) e por Jorge Braga de Macedo (ministro das finanças). Fica para a memória destes 40 anos do 25 de Abril e, sobretudo, para a história da ignomínia.