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O manifesto

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Em 5 de Abril de 2011, estavam PS, PSD e CDS a preparar a assinatura do memorando com a troika, o secretário geral do PCP afirmava a necessidade de negociar a dívida quanto a prazos, juros e capital, como alternativa à ocupação do país pelo FMI e seus parceiros.
Todos se lembrarão que, por aquela altura, aquele que viria a ser primeiro-ministro afirmava que acabar com o subsídio de natal era uma estupidez e que quase todas as forças políticas e economistas com presença na comunicação social consideravam as propostas do PCP irresponsáveis e desajustadas da realidade.
Nos últimos três anos o PCP apresentou na Assembleia da República inúmeros projectos de resolução no mesmo sentido, que tiveram sempre o voto contra de PS, PSD e CDS.
Passados três anos de brutal ataque aos rendimentos do trabalho e das reformas, um grupo de 70 personalidades, que inclui militantes e apoiantes dos partidos que se entenderam com a troika, vem agora afirmar que este caminho não tem saída e apelar à renegociação da dívida.
Apesar das diferenças existentes entre as propostas dos subscritores e o que o PCP sempre defendeu, não deixa de ser interessante que figuras como Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Sevinate Pinto, Vítor Martins e Ferro Rodrigues defendam agora, no essencial, o caminho proposto pelos comunistas como alternativa à intervenção externa no país.
Este manifesto surge num momento em que o inquilino de Belém vem defender o caminho do empobrecimento até ao fim dos tempos ou até 2035 se houver um milagre que ninguém viu acontecer em país nenhum.
A divulgação deste manifesto teve como reacção do governo o que se esperava. Desde o considerar inoportuno até a acusações veladas de falta de patriotismo dos subscritores houve de tudo, o que levou Bagão Félix, que como se sabe não é propriamente um perigoso revolucionário, a fazer comparações entre a ditadura política e a ditadura dos “mercados” que levariam à mesma ausência de liberdade de expressão.
Não consegui perceber a reacção institucional do PS, que afirma respeitar a iniciativa sem tomar posição sobre o seu conteúdo. Esta minha incompreensão estará naturalmente ligada ao facto deste partido continuar a não ser capaz de romper com os compromissos assumidos em 2011 quando negociou e assinou o famigerado memorando.
Já a reacção do inquilino de Belém é muito mais compreensível e ao nível do seu estruturado pensamento político: exonerou das funções de consultores os que se atreveram a subscrever um documento que contraria a sua perspectiva sobre o assunto, seguindo a máxima de qualquer ser omnisciente, “os consultores servem para confirmar que o que eu penso está correcto”.

Este manifesto pode não ter mais consequência nenhuma mas tem pelo menos o mérito de confirmar quatro coisas:
1 – Cada vez mais sectores da sociedade vêm dar razão ao PCP sobre a necessidade de renegociação da dívida.
2 – O governo não é capaz de colocar os interesses do país acima dos interesses dos credores.
3 – O PS, apesar do muito “barulho oposicionista”, não é capaz de rasgar o compromisso assumido com a troika.
4 – O Presidente da República é o que sempre foi.
Até para a semana

Eduardo Luciano (crónica na Rádio Diana)

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