Vivemos tempos difíceis. Como se já não bastasse que viver em Portugal seja uma tarefa árdua e cada vez mais penosa para a grande maioria dos portugueses, o Governo, com o total apoio dos grandes meios de comunicação social, quer levar-nos a um estado de alucinação colectiva.
A história da possível “saída limpa” pós-troika é uma farsa, uma narrativa falsa, disseminada por quem não tem qualquer respeito pelos portugueses ao ponto de ser capaz de lhes mentir descaradamente.
Procurarei desmontar, da forma resumida a que esta crónica me obriga, este enorme embuste.
A primeira grande face desta mentira, passa pelo chavão de que o país está melhor. Nem o país está melhor, nem os portugueses sentem qualquer melhoria na sua qualidade de vida, antes pelo contrário. Como podemos falar numa saída limpa, quando após um programa de resgate, todos os indicadores económicos, apontam para um país ainda pior em comparação com o período pré-resgate? Vejamos então…
Se no final de 2011 a dívida pública portuguesa se situava nos 107,2% do PIB, no final de 2013, 2 anos e meio depois da entrada da troika em Portugal, a dívida pública ascendeu aos 129,4% do PIB, mais 37 mil milhões de euros do que em 2011.
Se no ano de 2011 a taxa de desemprego se fixou nos 12,7%, no ano de 2013 esta atingiu os 16,3%, mais 200 mil desempregados em apenas dois anos.
Quanto ao défice público… Se no ano de 2011 o défice público se fixou nos 4,3%, em 2013 atingiu os 5% do PIB.
A estes indicadores, somamos o aumento desenfreado da emigração, a destruição do Estado Social, o corte nos salários, nas pensões, nas prestações sociais. Vivemos um período de total asfixiamento da economia, estamos perto do fundo do poço, e uns quantos senhores calculistas, frios, radicais e insensíveis falam-nos de sucesso e da possibilidade de uma “saída limpa”.
Mas a falácia da “saída limpa” não se explica apenas pela evolução dos indicadores económicos, ela é também uma enorme mentira, porque estará em vigor o Tratado Orçamental Europeu, aquele mesmo que PS / PSD e CDS defendem. Aquele que o PS diz ser motivo de orgulho que Portugal tenha sido dos primeiros países a subscrevê-lo. Um Tratado que representa a continuação da política austeritária, na sua forma mais extremada. Mais, um Tratado que para ser cumprido em Portugal implicaria vários anos com um superavit primário de 2%, crescimento nominal do PIB de 3,6% e crescimento da procura entre 0 e 1,4%. Todos sabem da completa impossibilidade de atingir tais metas, mas PS, PSD e CDS cá estarão para tentar continuar a destruir Portugal.
PS / PSD e CDS os reis da folia… Querem prolongar o Carnaval para além da sua época. Passos e Seguro mascarados de opositores, quando na verdade estão em acordo sobre o essencial, e Paulo Rangel e Francisco Assis disfarçados de adversários, quando estão mais do que desejosos de retirar a máscara e dar as mãos no Parlamento Europeu.
Para este Carnaval, não contem comigo. Para uma saída limpa quando a imundice já está hospedada, também não.
Até para a semana!
Bruno Martins (crónica na rádio diana)