Anda um homem a tentar convencer a malta que as políticas que resultam da conjugação de esforços entre a troika interna é o melhor para o povo e vem um correligionário desfazer, com uma frase cheia de boas intenções, esse castelo de boas ideias.
Um militante do PSD afirmou, talvez de forma irrefletida, que a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor.
Esta frase reflecte de forma precisa o pensamento de quem a proferiu. O País é, para o autor, uma entidade vazia e abstracta, sem pessoas que trabalham, que sobrevivem, que sonham, que desesperam.
O País é assim como que uma folha de cálculo que fica melhor ou pior conforme o deve e o haver se aproxima ou afasta do equilíbrio sonhado num qualquer curso de “boas maneiras” orçamentais.
Por isso é possível dizer, sem corar, que o país melhora com as pessoas a viver pior, ou que a retoma económica é qualquer coisa que se nota nas páginas dos jornais e não se nota na mesa da maioria dos portugueses.
Esta ideia, expressa de forma cristalina, não é mais do que aquilo que os nossos credores e os seus sicários vão repetindo em discursos onde se enaltecem os sucessos do resgate ou ajustamento, como eufemisticamente chamam ao empobrecimento generalizado das famílias que vivem do trabalho.
A ideia não é nova e os mais velhos lembrar-se-ão dos milagres do “mago das finanças” que impôs uma ditadura ao serviço dos mesmos que hoje beneficiam com as melhorias do País. O “País estava muito bem”, a ausência de liberdade, a miséria generalizada, o analfabetismo, os elevados índices de mortalidade infantil, a ausência de serviço nacional de saúde, a cultura relegada para o canto dos luxos e no entanto o velho das botas dizia “está tudo bem assim e não podia ser de outra forma”.
Podem não ser herdeiros directos do homem, mas servem os mesmos senhores e, diria eu, com um certo ganho de eficácia.
Parece que passaram da sinceridade do “quero que se lixem as eleições” à sinceridade do “quero que se lixem as pessoas” e vão imaginando um País sem gente enquanto se esforçam para nos transformar em gente sem País.
Este descolar da realidade levará à queda desta gente e ao recuperar do País por parte daqueles em quem reside a soberania, o povo.
Até para a semana
Eduardo Luciano (crónica na Rádio Diana)