Muito se tem falado sobre a necessidade de existir uma grande convergência à esquerda e das grandes dificuldades para o entendimento entre os diferentes movimentos partidários e de cidadãos deste quadrante político e ideológico.
Essa convergência é a única forma de haver uma solução política forte e viável para Portugal, que tenha como orientação a defesa do interesse das pessoas e não da grande finança. De facto, a defesa do valor do trabalho, dos serviços públicos, e da justiça social e económica apenas é possível com um governo de esquerda.
A criação de um governo de esquerda tem sido um desafio e uma proposta do Bloco de Esquerda de há vários anos a esta parte. O entendimento não tem sido possível. Não pretendo, sinceramente, discutir de que lado está a culpa desta impossibilidade de acordo entre as forças de esquerda, pois provavelmente a explicação não é simples. Tratar-se-ão de erros na estratégia seguida pelo Bloco de Esquerda? A culpa será do autismo do PCP? Serão as diferenças estratégicas com o MAS? Ou a culpa é da total ausência de socialismo na direção política do PS? Provavelmente, todas estas e muitas mais explicações são possíveis e verdadeiras.
Dito isto, e tendo em conta a actualidade, gostaria de falar de uma forma muito sucinta, sobre a saída da Ana Drago da Comissão Política do Bloco de Esquerda, sobre o movimento 3D e sobre o novo partido Livre.
Ana Drago saiu e explicou as suas razões. Admiro-a tanto agora, como dantes. Não me revejo nas razões que invoca para a sua saída, mas não fico admirado. No Bloco de Esquerda os momentos em que discordamos são tão naturais como os momentos em que concordamos. É assim, num movimento plural, democrático e transparente. Nunca o Bloco de Esquerda pretendeu que no seu seio existisse um pensamento único, mas como em qualquer movimento a discussão leva a tomadas de decisão que emergem da maioria. A Ana não concorda com a actual linha estratégica do Bloco e decidiu abandonar a Comissão Política. Não se trata de qualquer ruptura ideológica, pelo continuará o Bloco a contar com a sua força, garra e inteligência.
Classifico, também, a emergência do Partido Livre como normal. Convém não esquecer que Rui Tavares saiu em desacordo ideológico com a linha política europeia do grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, no qual o Bloco de Esquerda se insere. Com esta ruptura, mais do que desrespeitar o Bloco, Rui desrespeitou o seu eleitorado. Naturalmente, e porque quer continuar a ser deputado europeu teve de procurar lançar um partido a tempo de concorrer às eleições europeias.
Sobre o Movimento 3D muito mais haveria a dizer. Embora conheça muitos dos seus subscritores, e tenha a certeza absoluta da sua real vontade de participar voluntariamente numa verdadeira alternativa política de esquerda para o nosso país, devo dizer que todo o processo em volta da criação deste movimento tem sido muito pouco claro. Depois de ser lançada uma carta de intenções completamente vazia de conteúdo, o movimento (ou parte dele, pois não acredito que uma grande parte dos seus subscritores concordem) decidiu propor uma grande convergência de esquerda para as eleições europeias que apenas conteria, espantem-se, o Bloco de Esquerda, o Livre e a Renovação Comunista. Obviamente que este desafio não podia ser levado a sério. As mentes brilhantes do 3D ignoraram todas as restantes forças de esquerda, incluindo o partido de esquerda com maior intenção de voto nas sondagens: o PCP. Queriam, portanto, que o Bloco de Esquerda incluísse nas suas listas Rui Tavares, que no último mandato desrespeitou os seus eleitores e que tem demonstrado ter ideias diferentes para a política europeia. Bem sabiam, que esta proposta, completamente descabida não seria aceite. Assim como sabiam que ao afirmar, indirectamente, que estão dispostos a ser, a nível nacional, uma espécie de CDS para o PS, procurando a todo o custo integrar um governo deste partido, que sabemos será tudo menos um governo socialista, iria obviamente bloquear a possibilidade de entendimento.
Talvez o movimento 3D esteja a conseguir a sua verdadeira intenção, talvez o futuro nos esclareça acerca do seu verdadeiro propósito.
Quanto a mim, continuarei a ser socialista e anticapitalista, pelo que sei bem onde me sinto bem e o que realmente penso ser melhor para o meu país e para os meus concidadãos e concidadãs.
Até para a semana!
Bruno Martins (crónica na rádio Diana)