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A realidade e ficção

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E começaram a chegar os recibos aos pensionistas e funcionários públicos. À semelhança do que aconteceu no ano passado por esta altura, o rendimento disponível baixou significativamente para todos.
As televisões andaram num corrupio a filmar recibos e a entrevistar as vítimas do assalto, colocando questões tão inteligentes como perguntar a uma pensionista, que viu a sua pensão de sobrevivência baixar para pouco mais quinhentos euros, qual seria a estratégia para fazer face às despesas com ainda menos dinheiro.
Nos último tempos o governo tem tentado vender a ideia que estamos no caminho da recuperação, com o desemprego a diminuir e o país a dar passos largos para sair da crise.
Algumas pessoas que conheço foram dizendo que provavelmente a coisa até estava a resultar e, quem sabe, talvez este fosse o caminho da solução dos problemas do país.
Optei por não argumentar, por esperar pelo final do mês para voltar a conversar sobre o fantástico sucesso do ajustamento português.
Perante mais cortes e aumentos de impostos sobre o trabalho, perante um olhar desolador sobre o resultado líquido da conta, perante a dureza da realidade transferida para a conta bancária, ouvi um pouco de tudo mas ninguém se atreveu a cantar loas ao caminho percorrido.
Talvez lá mais para o fim do ano, quando a memória pregar a partida e mascarar as diferenças pelo efeito da habituação, alguns voltem a dar o benefício da dúvida.
Por agora não há declarações de governante ou comissário europeu, que os consigam convencer que o caminho do sucesso é por cima do empobrecimento de quem trabalha. Uma simples folha de papel destruiu o mito e leva ao desespero de quem a recebeu.
Já agora, deixem-me contar uma anedota protagonizada por um ministro. Durante o debate na Comissão de Saúde, o ministro afirmou que quando sair vai deixar o SNS mais favorecido.
Os deputados da coligação multiplicaram-se em elogios manifestando o seu orgulho nos feitos da equipa ministerial.
A coisa foi de tal monta que o ministro se viu obrigado a recusar os louros, distribuindo-os pelo Ministério Público e Polícia Judiciária, no combate à fraude relacionada com medicamentos.
Parece que temos um país dividido entre uma pequena minoria que imagina uma realidade inexistente e uma imensa maioria que é atropelada por uma realidade impressa num recibo de salário ou pensão.
Até para a semana

Eduardo Luciano (crónica na rádio Diana)

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