A notícia chegou-me através do escultor Pedro Fazenda, irmão da Manuela, companheira de há muitos anos do Pedro Lobo Antunes. A noticia era breve: ontem, sábado, morreu o Pedro. Soube depois, de doença súbita, em Lisboa, onde agora vivia, depois de ter sido um dos elementos-chave da chamada canção de intervenção (nos idos dos anos 60, em toda a cintura de Lisboa, com Francisco Fanhais, por exemplo, para quem musicou vários poemas de Manuel Alegre num dos seus primeiros discos - "Canções da Cidade Nova ou Dedicatória", de 1970).
Poeta e também cantor, Pedro Lobo Antunes esteve exilado em França regressando a Portugal após o 25 de Abril, altura em que com outros companheiros colaborou na criação da "Comunal"- Cooperativa de Árgea (Torres Novas) que teve um papel marcante no movimento associativo agrícola do pós-25 de Abril.
Arquitecto, foi professor e integrou depois o GAT de Torres Novas. Mais tarde foi vereador da Câmara de Torres Novas pelo PS e membro da Assembleia Municipal, de que se demitiu em 2010 alegando que a sua vida familiar e profissional estava em Lisboa.
Irmão do escritor António Lobo Antunes, o Pedro era de uma fina sensibilidade artística e pessoal, tendo também vários poemas seus, cantados em espaços públicos, ainda antes do 25 de Abril. Fica um exemplo:
FLORES
Nascem flores onde quiseres
Nascem flores na tua mão
Crescem flores onde estiveres
Nascem flores também no chão
Há fome de flores no teu país
Há falta de flores na tua cidade
Precisa de flores o teu amigo
Precisa de flores a nossa paisagem
Atrás da orelha uma flor
Pendurada da boca uma flor
Todo o teu peso passa-o à flor
Mais flores menos dores mais flores
Nos teus olhos vê-se a flor
Vê-se a flor que trazes dentro
Nascem flores onde quiseres
Não deixes que as leve o vento
Pedro Lobo Antunes