“As cidades, especialmente as do sul da Europa, são os espaços onde a brutal e persistente crise contemporânea expressa mais visivelmente os seus efeitos, alerta Del Pozo aqui.
Este professor de Filosofia da Universidade de Girona, com obra publicada e intensa atividade política (Partido Socialista da Cataluña)), participa no Movimento das Cidades Educadoras desde o seu início, sendo apontado como um dos teóricos inspiradores.
Neste artigo recente, Pozo destaca 4 dimensões na crise que vivemos. A original, ou seja a crise económico-financeira, a consequente crise social, a inevitável crise política resultante e a que considera mais radical: uma crise ética pela desmoralização.
A situação é grave para as pessoas no desemprego; mas também para as pessoas com trabalho: vivem debaixo da ameaça crescente do desemprego, vêm esgotados os seus direitos laborais, que deixam de reclamar por medo e acabam aceitando umas dinâmicas de trabalho que, segundo Richard Sennet, “corroem o carácter” dos trabalhadores pelas suas condições de precariedade, salários baixos, instabilidade, desprezo pelos direitos e consideração pessoal e múltiplas arbitrariedades. (...)
A crise económico-financeira, com a chantagem dos célebres mercados sobre os governos, esvazia a política democrática da sua capacidade diretiva dos processos sociais e deslegitima o poder porque não manda quem representa, mas sim quem tem a força bruta do dinheiro; e a lei da força é, essencialmente, antidemocrática.(…)
Esta crise da desmoralização promove a perda de autoestima, consolida a tendência fortemente individualista de muitas pessoas, que é em parte a origem ultraliberal da crise, mas que acima de tudo é a pior receita para sair dela. A perda da autoestima consolida o individualismo porque “desanima” ou dissuade do valor do compromisso comunitário; quem perde a autoestima – tanto um indivíduo como um país – tende à inibição e ao desprezo de toda a atividade cooperativa ou social. (…)
Depois deste diagnóstico da crise, Del Pozo faz sugestões para a cura:
Mesmo que uma cidade educadora não tenha por si só a chave para a saída da crise, pode encontrar na sua própria dinâmica interna, (…) caminhos de atuação para controlar os efeitos mais negativos da crise; e, especialmente, pode desenvolver iniciativas cívicas que gerem processos de confiança e de cooperação que resultarão essenciais nos próximos tempos para estimular e consolidar, localmente, alguma saída da quádrupla crise que nos tem confrontado com dinâmicas deseducadoras globais graves.”
Poderá ou quererá Évora aceitar o conselho?