Hoje, primeira crónica de dezembro, mês do Natal, falarei um pouco sobre a felicidade que nos vem de pequenas grandes coisas, como por exemplo as iluminações da quadra nas ruas.
A inspiração chegou com as palavras do autarca de Lisboa que, na concorrida, festiva e mediática inauguração das iluminações de Natal na Baixa, afirmou que a pior medida de poupança que tinha feito, há dois anos, teria sido nas luminárias natalícias, alegando que estes momentos de felicidade são não apenas bons para os cidadãos, como para o comércio daquela zona. Devo dizer que concordo. Que o ambiente influencia as pessoas e que coisas bonitas à nossa volta fazem-nos, pelo menos tentar, ser mais harmoniosos com essa beleza. Mas também concordo com Lincoln que a meio do século XIX na América terá dito que «A maioria das pessoas é tão feliz quanto resolve ser». Ou seja, se este ano sobre as luzes se achará que nos põem mais felizes, noutros houve, e se calhar voltará a haver, em que nos incomodam por representarem um luxo a que não temos direito porque algures no tempo haveremos de ter o dever de o pagar. Enfim, a cena do velho, do rapaz e do burro (português já agora que estão na moda) que é tentar agradar a todas as vozes que palpitam no espaço público em geral.
Reza a história feita de fait-divers que no final de 1880 Thomas Edison, contente com o bom funcionamento das suas lâmpadas incandescentes, estava à procura de maneira de propagandeá-las quando resolveu celebrar o Natal pondo lâmpadas incandescentes à volta do seu laboratório, recuperando uma tradição (sem eletricidade) do norte da Europa. Dois anos mais tarde, um colega de Edison, chamado Edward Johnson, exibiu a primeira árvore de Natal eletricamente iluminada na sua casa em Manhattan. A iluminação nesta quadra começou então como forma de atrair pessoas, mas também como um gesto de celebração, e mantém-se assim até hoje, tendo-se espalhado pelo mundo ocidental ou ocidentalizado.
De uma conjugação entre o público e o privado, este interesse comum acaba por ter, nas cidades, vilas e aldeias, envolvimentos diferentes. Cabe normalmente às Câmaras Municipais a iniciativa, e respetivo orçamento, de iluminar e animar as ruas, cabendo aos comerciantes, os que beneficiarão com a atração de mais pessoas aos locais iluminados e animados, manter as lojas abertas em horários alargados e promovendo o que nelas vendem.
Tive alguma intervenção no Natal de Évora nos anos 2010, 11 e 12, já que no primeiro ano da minha vereação, tudo já estava preparado para que decorresse como decorreu. Em 2010 com o orçamento rapadíssimo para estas iniciativas de iluminação festiva lá se fez uma versão low cost. Mas em 2011, repetindo-se em 2012, fomos encontrando maneira de, com meios internos, assinalar a data e aquecer o ambiente. Houve inclusivamente uma tentativa de, em conjunto com os comerciantes através da Associação Comercial do distrito, ajudar quem normalmente não podendo dar-se a extras, no Natal pudesse ter vales que usando no comércio tradicional o permitisse. Não resultou, já que poucos comerciantes aderiram.
É aliás um sintoma do que se foi criando num certo comércio dito tradicional, que todos se acham na obrigação, eu inclusive, de ir apoiando. E o que se verifica é que, continuando a lamentar-se do pouco negócio pelo esvaziamento não só dos bolsos mas também das ruas, não só algumas cidades vão permanecendo na rotina que não assinala a época como em épocas mais fartas dos poderes públicos, como não se assiste a nenhuma reação proactiva por parte desses interessados, alguns comerciantes com honrosas exceções, que parecem afinal pouco interessados, em contribuir no que, contas feitas, só podia reverter em seu favor. Mistérios…
Até para a semana.
Claúdia Sousa Pereira (crónica na rádio diana)