Hoje, dia 14 de Setembro, cumprem-se 150 anos que o comboio chegou a Évora. A cidade passava a dispor do mais revolucionário meio de circulação do tempo, de uma das mais notáveis invenções do espírito humano. « É o progresso que chega a Évora», escrevia entusiasmado e eufórico o repórter do “Pharol do Alentejo” que assistiu na estação, repleta de curiosos, à chegada do «cavalo de ferro», o qual nessa viagem inaugural esteve apenas reservado ao transporte de convidados.
Começava aí a implantação do Ramal de Évora, cujo propósito inicial era o de ligar a cidade à Margem Sul do Tejo, mais propriamente a Lisboa, e à Linha do Leste, em direcção à fronteira com Espanha. A partir de então nada mais seria igual na região. A vida ia acelerar-se decisivamente pelo encurtamento do tempo de circulação de pessoas e mercadorias, as viagens tornar-se-iam mais cómodas e os carris rasgariam a planície chegando aos lugares mais desconhecidos e inóspitos.
Pois apesar de tudo Évora, nas suas gentes oficiais, resolveu ignorar por completo a redonda efeméride de um acontecimento cujas implicações posteriores de natureza social, cultural e económica se repercutiram na vida, no desenvolvimento, na planificação e no progresso da cidade e dos seus habitantes. Isto num momento em que é reconhecida a necessidade de se organizarem eventos interessantes e diferentes que contribuam para a animação dos seus espaços e ruas e para que a cidade retome o lugar de destaque que já teve na iniciativa cultural e turística do país.
Pois aqui ao lado a Diputátion de Badajoz não dorme. Conforme tem sido amplamente divulgado na imprensa espanhola e extremenha e o “ Diário do Sul” aproveitou também para transcrever em “manchete” na edição da passada sexta-feira , aquele Departamento de Cultura Provincial vai aproveitar a circunstância de no próximo dia 20, ou seja seis dias depois de Évora, se completarem, igualmente 150 anos, sobre a chegada do primeiro comboio de passageiros à cidade para comemorar o aniversário com um vasto programa de eventos alusivos de ordem cultural e turística
Do programa destaca-se, logo no dia 20, a organização de um comboio especial que partirá às 17 horas de Elvas e chegará a Badajoz cerca de vinte e cinco minutos depois. As composições componentes do mesmo levarão cerca de 200 pessoas e a participação na viagem está aberta a qualquer cidadão bastando-lhe fazer a inscrição no Departamento de Cultura Provincial. As actividades- que são diversas segundo o programa comemorativo já distribuído - incluem várias exposições (uma delas dirigida especialmente às crianças), colóquios e debates subordinados ao tema «150 anos de ferrovia na Extremadura» e decorrerão até ao próximo dia 31 de Outubro.
Do rol de patrocinadores fazem parte além da Diputatión de Badajoz, a Association de Amigos del Ferrocarril de Extremadura, o Museu Nacional Ferroviário, a Fundação Armando Ginestal Machado, a Fundação Railways ADIF, a Renfe, a Delta Cafés, o Município de Elvas e o Governo da Extremadura.
Pois por cá, moita carrasco, como popularmente se diz. Ninguém sabe que faz hoje 150 anos que o comboio chegou a Évora. E dá vontade de perguntar, como muitos vão dando conta, o que fazem tantos historiadores e investigadores existentes nesta sacrossanta cidade, empanturrados de mestrados e doutoramentos, instalados nos diversos organismos regionais onde auferem excelentes vencimentos se nem sequer conhecem a história da cidade? E se Évora dispunha de óptimas condições para celebrar este evento desta natureza. Mas por aqui não entro nem faço sugestões porque não sou pago para tal. Amo a minha cidade mas os outros que façam o trabalho que lhes compete é devido. Lastimo sim a incapacidade, a inépcia e a ignorância.
Eu, por mim, já cumpri a minha obrigação e informei os meus concidadão: hoje, 14 de Setembro, o comboio chegou a Évora. Estávamos em 1863. Faz 150 anos. E por aqui, como dizem os espanhóis, «non passa nada».
José Frota