Pelo respeito que me merece o "a cinco tons", pela pluralidade, isenção, e diversidade de opinião que o blog acolhe, independentemente daquelas que são as posições e o pensamento politico dos seus criadores e, por último, porque fui diretamente visado num texto do Sr. Andrade Santos republicado ontem no vosso blog,após publicação no Diário do Sul, gostaria que publicasse, com igual destaque, um texto resposta, que também fiz publicar no DS.
F.C.
A tentativa da CDU de branquear a sua responsabilidade na atual situação financeira da Câmara Municipal de Évora é uma encenação patética de quem procura fazer dos eborenses parvos. A ancestral sabedoria popular tem uma expressão que se aplica, como uma luva, a esta atitude desesperada daquela força política: “por mais que se esforcem não é possível tapar o sol com uma peneira”.
Vem isto a propósito dum artigo de opinião, publicado no Diário do Sul e republicado aqui no “a cinco tons”, assinado por João Andrade Santos, em que sou diretamente visado, não pretendendo eternizar a discussão sobre este assunto, por entender que o que deve ser debatido é o futuro e não o passado, será a última vez que publicamente abordarei a temática da situação financeira da CME na perspetiva da dívida herdada.
Vamos aos factos, o articulista, partindo dos valores inscritos nos relatórios de contas, dos anos de 2001 a 2012, conclui que a CDU não poderia ter deixado uma dívida a rondar os 70 milhões de euros, ora, ignora, propositadamente o opinador que o valor das dívidas inscritos nas contas em 2001 estavam, como está documentalmente provado, muito abaixo da realidade.
Tendo o senhor Andrade Santos sido vereador da CDU deveria saber que naquele tempo não existia (pasme-se) na CME um registo de faturas em dívida e que as mesmas só eram processadas contabilisticamente no momento do pagamento. De tal forma que a empresa Artur Anderson teve imensa dificuldade para identificar o valor exato da dívida, expresso nas faturas existentes na contabilidade e em muitas outras dispersas pelas “gavetas das secretárias” dos diversos departamentos municipais. Esse registo só mais tarde, com a gestão PS, passou a fazer-se. Convém aqui recordar que, durante os mandatos da CDU, a autarquia não possuía Revisor Oficial de Contas, como hoje acontece.
Portanto, só bem mais tarde, com os mandatos do PS, os Balanços passaram, com rigor a refletir, a situação patrimonial da autarquia.
O conhecimento que o articulista tem, ou não tem, destes fatos leva-me a colocar dois tipos de interrogações:
Tendo sido, o senhor Andrade Santos, vereador durante mandatos de gestão da CDU e mandatos de gestão do PS, a questão que se me coloca é: - se ele desconhecia estes factos, isso é mau, direi mesmo muito mau; Se conhecendo os factos pretende com o seu artigo atirar-nos areia para os olhos, isso é pior, muito pior.
Para que, em definitivo, não fiquem dúvidas sobre este assunto, aqui deixamos um quadro com a dívida da CME, apurada na auditoria externa efetuada pela Artur Andersen, referente a 31/12/2001 (último mandato da CDU) - valores em milhões de euros:
Divida relativa a operações realizadas até 31/12/2001 | 22.235 |
Endividamento Bancário e com locação Financeira | 22.686 |
Responsabilidades assumidas com impacto futuro | 15.760 |
Processos em contencioso com pedidos de indemnização financeira | 05.457 |
Total | 66.128 |
Após a conclusão da auditoria, foram ainda identificados um conjunto de débitos, por reclamação dos credores, que atiraram a dívida para valores a rondar os 70 milhões de euros (14 milhões de contos na altura).
Esta é a verdade a que todos os munícipes têm direito e, ao contrário de outros, eu não pretendo fazer deles parvos, até porque eles têm vindo sucessivamente a demonstrar que o não são.
Francisco Chalaça
Economista