Comentar I
Felizmente nos dias que correm não há facto que não tenha, no espaço público de comunicação, comentários e comentadores à sua volta. Infelizmente está a tornar-se tão banal e tão díspar a qualidade dos comentadores que não sei se o martírio de quem os ouve ou lê não os anestesiará, e a opinião ou o comentário deixem de ter o efeito esclarecedor que, em meu entender, deviam ter. É o mesmo risco que corro enquanto cronista, afinal. Mas quem sou eu, e os outros desta Diana, e com sua licença, para não querermos corrê-lo?! Ao risco.Dar opinião é uma forma de participar nas coisas que se vão passando, com o conforto de espetador a quem o que se passa no palco onde não são atores, em princípio, não são atribuídas responsabilidades de bom ou mau desempenho. É certo que, por vezes e muito legitimamente, os atores também podem fazer comentários à sua própria atuação, uma espécie de contraditório a que têm direito e que até serve para enriquecer e esclarecer as mentes dos que se interessam pelo que vai decorrendo, com o maior número de pontos de vista possível.
O comentário mais idiota que ouvi, e de fonte direta porque ninguém me contou, foi o de D. Duarte ao livro de Saramago «O Evangelho Segundo Jesus Cristo». E cito o comentário mesmo com o vernáculo de fino recorte popular que a real figura pública utilizou: «Eu não li o livro mas já sei que é uma merda!». Bem sei que foi depois de um jantar e de uma noite de copos em que alguns, legitimamente, indignados pela obra do Autor (a literatura tem destas coisas) se reuniram para celebrar a sua indignação. E por isso até posso desculpar o deslize de quem é um eterno candidato a um trono invisível que só alguns, como na história de Andersen em que o rei vai nu, conseguem ver.
O que me incomoda é que este não tenha sido caso isolado e que o método faça parte de uma prática que, porque o comentário está e muito bem na rua, seja quase epidémico. É que há quem comente parindo em espaço público aquilo com que foi emprenhado pelos ouvidos, ou olhos, em espaço também mais ou menos público. Também é verdade que, felizmente, me cruzo com muita gente que está bem informada, procura as fontes certas, interessa-se verdadeiramente pelos assuntos e utiliza vários meios ao seu alcance para expor a sua opinião e comentar determinados factos. A esses devia-se-lhes dar mais voz, pública, e não tantas vezes fazer-lhes a número do «lá vem este ou esta complicar as coisas, que maçada!».
Também me parece ser um facto que com um microfone à frente as pessoas se sintam na obrigação, que a maior parte não tem, de comentar ou expressar uma opinião. Digo a maior parte, porque há os que até se põem a jeito para fazer esse papel. Às vezes põem-se também a jeito de fazer fraca figura e em vez de dizer que não sabem o suficiente sobre o que se lhes pede para comentar, começam logo pelo mais básico juízo de valor: Gosto! ou Não gosto? Os porquês é que são elas. Muitas vezes, quando gostam, lá usam as sensações para justificar e acrescentar mais alguma coisinha muito coisinha, tipo «Não há palavras para exprimir.» Quando não gostam, ou repetem o que ouviram dizer aqui «àquele senhor que falou antes de mim» ou porque é um «assunto que me passa ao lado»…
Ainda bem que ainda há quem diga porque é que gosta ou não gosta e quem aceite que gostem ou não gostem, também dos seus comentários. Até para a semana.
O comentário mais idiota que ouvi, e de fonte direta porque ninguém me contou, foi o de D. Duarte ao livro de Saramago «O Evangelho Segundo Jesus Cristo». E cito o comentário mesmo com o vernáculo de fino recorte popular que a real figura pública utilizou: «Eu não li o livro mas já sei que é uma merda!». Bem sei que foi depois de um jantar e de uma noite de copos em que alguns, legitimamente, indignados pela obra do Autor (a literatura tem destas coisas) se reuniram para celebrar a sua indignação. E por isso até posso desculpar o deslize de quem é um eterno candidato a um trono invisível que só alguns, como na história de Andersen em que o rei vai nu, conseguem ver.
O que me incomoda é que este não tenha sido caso isolado e que o método faça parte de uma prática que, porque o comentário está e muito bem na rua, seja quase epidémico. É que há quem comente parindo em espaço público aquilo com que foi emprenhado pelos ouvidos, ou olhos, em espaço também mais ou menos público. Também é verdade que, felizmente, me cruzo com muita gente que está bem informada, procura as fontes certas, interessa-se verdadeiramente pelos assuntos e utiliza vários meios ao seu alcance para expor a sua opinião e comentar determinados factos. A esses devia-se-lhes dar mais voz, pública, e não tantas vezes fazer-lhes a número do «lá vem este ou esta complicar as coisas, que maçada!».
Também me parece ser um facto que com um microfone à frente as pessoas se sintam na obrigação, que a maior parte não tem, de comentar ou expressar uma opinião. Digo a maior parte, porque há os que até se põem a jeito para fazer esse papel. Às vezes põem-se também a jeito de fazer fraca figura e em vez de dizer que não sabem o suficiente sobre o que se lhes pede para comentar, começam logo pelo mais básico juízo de valor: Gosto! ou Não gosto? Os porquês é que são elas. Muitas vezes, quando gostam, lá usam as sensações para justificar e acrescentar mais alguma coisinha muito coisinha, tipo «Não há palavras para exprimir.» Quando não gostam, ou repetem o que ouviram dizer aqui «àquele senhor que falou antes de mim» ou porque é um «assunto que me passa ao lado»…
Ainda bem que ainda há quem diga porque é que gosta ou não gosta e quem aceite que gostem ou não gostem, também dos seus comentários. Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira -aqui